Amor desfeito
Água é pra lavar canseira, menina. Tem que ser fria, quase gelada, no ponto do arrepio. Deixa ela cair feito fio grosso na cabeça. Dá um choque e esparrama. Chega nas costas que nem sente, parece quentura mais leve que o morno. É massagem. Tem mais jeito de carícia correndo o corpo, limpando a dor, varrendo a preguiça pra dentro do ralo que vai pra longe. E leva com ela a tristeza que a espuma do sabão esconde no meio do líquido transparente.
A Lua é cheia
É minguante quando esconde na parte escura os sonhos dos apaixonados. Assume-se nova para disfarçar a idade dos que amam. E se apresenta crescente expondo as fantasias dos sedutores em doses que aumentam até ela ficar cheia.
Folhas murchas
Caíram duas. Vieram em seguida outras. E muito mais no piso desbotado do quintal. Dias e noites, semanas de varrição. Outono sem folhas murchas é verão camuflado de primavera sem flores.
Café da hora
Sai fumaça da xícara e assanha. Sobe até as narinas e enfeitiça. Cheiro bom, líquido quente, sabor estimulante e mais um gole, até restar no fundo apenas o círculo escuro do café que a vasilha deixou sobrar.
Sol ou chuva
Basta o suor para molhar o rosto e o sol será bem-vindo. Assim se eu chorar as lágrimas se misturam e ninguém dirá que eu choro. Como também é acolhida a chuva se o tempo virar e eu rir de uma graça que é minha. Assim pensarão que os traços que parecem sorridentes são caretas para evitar os pingos nos olhos.
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