quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Crônica - Só os poetas escrevem os poemas

O que tenho é poesia. Desconheço rima e ignoro métrica. Por isso estou léguas de ser poeta. Alguém disse que poesia não é forma. Por ser apenas sentimento ela não depende de escrita. Poesia é o que encanta e comove. Ou o que machuca e faz sofrer.

Está na árvore ali adiante. Encontro-a na solidão aqui presente. Busco-a nas coisas miúdas quando a pretensão é transformar detalhezinhos em colossos. Ou o contrário: fazer do gigante um anão. O poema é a forma que se dá a isso num pedaço de papel. Um guardanapo serve. Na forma moderna usam a tela de um monitor. Tanto faz. O que vale é o resultado.

Mas eu queria ser poeta. Ah, como queria. Trabalhar metáforas e abusar do sentido figurado para dizer em três linhas aquilo que exigiria na prosa uma folha inteira. Colocar a alma na vitrina com poucas palavras como os gênios do haicai escrevem a vida num instante. Rabiscar cordéis feito os grandes mestres que narram extensos epsódios como se estivessem conversando numa esquina.

Eu tento, porém, chegar mais perto que posso. Porque eu sei virar o meu coração do avesso. Quando preciso, faço isso. E a precisão nem sempre é a rota matemática de um traçado. Pode ser apenas sinônimo de necessidade. Eu quero, no entanto, mais. Pretendo que o meu preciso seja a mistura de tudo: sentimento e certeza, carência e resposta e a reprodução exata e na devida proporção, num desenho rápido, da maçã que derrubou Eva. É forma e conteúdo. Só não sei como faço as rimas e a métrica não dá som.

Faço uma prosa e a única sequencia lógica do meu escrito é o que o cérebro permite escrever, mandando sinais para os dedos que digitam, os olhos que conferem, a mente que conclui: que texto ruim!

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