terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Crônica - Como interpretar Memória da Pele

É uma análise arriscada, pois a poesia transformada em música é assinada por dois grandes monstros da MPB: João Bosco e Wally Salomão. De qualquer forma vamos empreitar. Primeiro com a transcrição da letra:
“Eu já esqueci você / Tento crer / Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer / Sugo sempre / Busco sempre / A sonhar em vão / Cor vermelha carne da sua boca, coração
Eu já esqueci você, tento crer / Seu nome, sua cara, seu jeito, seu odor / Sua casa, sua cama / Sua carne, seu suor / Eu pertenço a raça da pedra dura
Quando enfim juro que esqueci / Quem se lembra de você em mim / Em mim / Não sou eu sofro e sei / Não sou eu finjo que não sei, não sou eu /
Sonho bocas que murmuram / Tranço em pernas que procuram enfim / Não sou eu sofro e sei / Quem se lembra de você em mim / Eu sei, eu sei
Bate é na memória da minha pele / Bate é no sangue que bombeia /
Na minha veia
Bate é no champanhe que borbulhava / Na sua taça e que borbulha / agora na taça da minha cabeça
Eu já esqueci você, tento crer / Nesses lábios que meus lábios sugam de prazer / Sugo sempre / Busco sempre a sonhar em vão / Cor vermelha, carne da sua boca, coração”
Pois é. A letra é um conformismo inconformado. É um desapego apegado. É sim e não e, enfim, é negação de um fato que se perdeu. A pessoa que se foi deixa marcas fortes: lábios, odor, cara, jeito, casa, cama, carne e suor. E quem foi deixado faz de conta que esquece, despreza, ignora. Mas se denuncia amarrado ao amor a ponto de detalhar momentos e eternizar cenas.
Memória da Pele chegou inclusive a ser tema de novela. Mas a letra e a música de João Bosco e Wally Salomão são gigantes. É poesia pura, cantada com maestria. É o melhor da música popular brasileira. É obra para ser curtida.
Quantos esqueceram do fogo da paixão que teima em acender a cada momento de solidão? Então Memória da Pele é vida para quem ama. Pura realidade. Às vezes até o sorriso de quem se foi fica por anos aparecendo nos espelhos que temos pela frente.

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