quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Conto - Ironia com inteligência alivia calor

Então se o político brasileiro pode tudo, Nandinho resolveu colocá-los à prova. É bom deixar claro e direto que este carinha não é rato de gabinete parlamentar ou escritório político. Nandinho é um chato mais interessante: cobra desempenho com mensagens enviadas por internet e, para reforçar, manda correspondências pelos Correios na opção de AR. Assim o destinatário tem que assinar que recebeu o envelope.

O tema da mais recente interferência de Nandinho foi escolhido num almoço do pessoal da empresa onde ele é auxiliar do assessor do chefe. Aliás, um cargo intermediário conseguido com muito suor. Para se ter uma idéia, antes de ocupar a função Nandinho tinha salário bruto de oitocentos e setenta e quatro reais e vinte e seis centavos. Empossado no cargo o bruto passou para oitocentos e oitenta e poucos mais centavos afins.

A diferença, se levado em conta a renda líquida, dá para uma garrafa de refrigerante daquelas pequenas, de 290 ml. Isso numa padaria e confeitaria sofisticada. No mercadão da esquina o valor dá para quase duas garrafinhas.

Mas vamos ao que interessa. Foi num almoço, no refeitório da própria empresa, que colocaram na cabeça do Nandinho que ele devia mandar uma carta aos vereadores sobre esse destempero da natureza com calor de 35 graus ao sol.

Nandinho logo pensou em uma manifestação ecológica, com texto pesquisado na internet sobre desmatamento, uso excessivo de equipamentos e produtos nocivos ao meio ambiente, reciclagem, assoreamento, recuperação da mata ciliar, saneamento e outras coisas relacionadas.

Pensou e estufou o peito de orgulho e vontade. Planejou tópicos a serem abordados e autores a serem consultados. De cabeça fez a introdução de uma carta que mais do que apenas cobrar devia conscientizar, comover e estimular ação.

Mas a galera estava de gozação e completou que a carta devia ser enviada a todos os edis solicitando que enviassem requerimentos pedindo complacência da mãe natureza para com o ser humano: mais chuvas e permuta de um pouco do frio que faz na Europa com o calor tropical daqui.

Nandinho, ao contrário de esbravejar, aceitou o desafio. Prosseguiu com o seu projeto de dar boa fundamentação ao texto a partir de estudos científicos e pôs alma na redação. E no finalzinho propôs aos vereadores que convocassem audiência pública para que a mãe natureza se fizesse presente e falasse da sua tristeza por tantas maldades do homem ao meio ambiente.

Dos dezenove vereadores dezoito gargalharam com o manifesto do Nandinho. Um sugeriu que o texto do Nandinho fosse usado em uma campanha de conscientização. Claro que a proposta foi engavetada, mas até na ironia Nandinho conseguiu ser forte em seu argumento.

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