segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Opinião - Diferença entre o saber e a sabedoria

Cora Coralina diz tudo de um jeito simples e eu recorro a ela: “O saber se aprende com os mestres. A sabedoria, só com o corriqueiro da vida”.

Ela é uma soberana. Batizada Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, esta goiana nasceu em 20 de agosto de 1889. Era uma doceira. Mas ficou gigante como poeta e contista. E mesmo grande na poesia e na escita, jamais deixou de pisar no chão. Faleceu em Goiânia em 10 de abril de 1985. Mas nunca morreu. Ficou para a eternidade.

Na literatura brasileira ela assinava suas obras como Cora Coralina. E eu ouso transcrever um poema, com o título “Humildade”, antes de trocar idéia sobre saber e sabedoria:

“Senhor, fazei com que eu aceite / minha pobreza tal qual como sempre foi / que não sinta o que não tenho. / Não lamente o que podia ter / e se perdeu por caminhos errados / e nunca mais voltou. / Daí, Senhor, que minha humildade / seja como a chuva desejada / caindo mansa, / longa noite escura / numa terra sedenta / e num telhado velho. / Que eu possa agradecer a Vós, / minha cama estreita, / minhas coisinhas pobres, / minha casa de chão, / pedras e tábuas remontadas. / E ter sempre um feixe de lenha / debaixo do meu fogão de taipa, / e acender, eu mesma / o fogo alegre da minha casa / na manhã de um novo dia que começa.”

Saber e sabedoria! Quanta distância entre uma coisa e outra! Cora Coralina, pelo que presumo, teve como seu grande mestre, para o saber, a sua vida simples nas ruas de Cidade de Goiás, onde nasceu. A sabedoria ela extraiu daquele cotidiano.

Eu tive minha mãe como a grande mestre. Ela me ensinou decência e dignidade. Com isso me deu base para agir sempre com ética. Certeza vez, menino do antigo grupo escolar, onde se estudava o curso primário, uma colega de sala, de família rica, prometeu trazer um pacote de doce produzido na fábrica de seu pai. Não me trouxe e um dia me passou um dinheiro que eu nem imaginava quanto era para que eu comprasse a Maria mole em canudo no bar perto da escola.

Em vez de comprar o doce eu levei o dinheiro para casa e entreguei para minha mãe. Ela ficou surpresa com o valor e no dia seguinte foi à escola, comigo, para que eu devolvesse o dinheiro à colega. Fiquei muito envergonhado.

Saber e sabedoria! Nessa curtíssima história eu tive as duas coisas. Como disse Cora Coralina, saber se aprende com os mestres e a sabedoria com o corriqueiro da vida. Minha mãe e aquela experiência ainda fazem parte de mim. De um jeito muito forte! 

Um comentário:

PARTICIPE: