sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Crônica - Como construir a imagem na recepção

Eu sou Lima mas não sou laranja! Assim ele se anunciava aos políticos. Sujeito boa pinta! Cabelos penteados com uma mecha na parte frontal, meio à esquerda, trazida pelo pente ao outro lado. Camisa esporte fino sempre por dentro das calças, mesmo no caso do jeans. Calçados meio termo. Nunca um tênis, mas o esporte requintado, de couro de verdade. Brilhantes por força da graxa e do engraxate. Meias Lupo, as outras marcas eram desprezadas.

Lima, nunca mais do que isso. Sua graça, senhor? Lima, mas não sou laranja, senhorita. Lima, mas o seu nome, por favor? Lima basta, contanto que fique claro que não sou laranja.

As conversas eram assim, com dose de humor no tom e na medida certa. Verdade que nem sempre essa comunicação era bem vinda. Às vezes Lima era interpretado como alguém que não fala sério. Havia quem imaginasse que ele escondia o jogo. E questionavam os lá do canto que esse fulano tem a ver com os políticos, pois só anda atrás deles, e sempre chega com a conversa fiada de ser o Lima que não é laranja.

Normalmente as mocinhas da recepção faziam de conta que o sujeito agradava. A função delas é essa, fazer com que as pessoas atendidas sintam que são agradáveis. Grande mentira! Tinha uma que odiava a ponto de após recepcioná-lo correr ao banheiro para lavar o rosto por culpa do beijinho que Lima deixava estalado no rosto branquinho e perfumado.

E isso Lima nunca percebeu. Na saída, após a audiência com o político, Lima se despedia com outro beijo. Houve ocasião em que a mocinha da recepção havia acabado de retocar a maquiagem e reforçar o perfume após se lavar por asco do beijo da entrada. Que coisa!

Lima, na verdade, tinha pretensões e o seu recado era direto: Eu me chamo Lima mas não sou laranja! Era isso. Ele na verdade anunciava que estava liberado. Como cabo eleitoral de situacionistas e opositores ao mesmo tempo, ele oferecia seus serviços.

O emprego público não interessava por causa dos salários. Mas outras incumbências seriam bem vindas.
O duro era que os políticos, acostumados com esse tipo de vocabulário, faziam de conta que não entendiam. E assim Lima passou a ser conhecido entre as recepcionistas e os serviços gerais por outro apelido. Mal ele cruzava a rua lá adiante e alguém vinha avisar a moça da recepção: se prepara que o laranja azeda está chegando! E ela emendava: credo, de novo aquele mala de cabelo chupado!

Pois é senhores contatos, representantes comerciais, promotores de laboratórios médicos e demais visitantes! Cuidado com o que usam, fazem e com o que falam com as mocinhas da recepção.

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