quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Conto - A vingança de Leopoldina foi com outros

Diríamos que Leopoldina tinha um gênio forte atrás de uma cara bonita e um corpo esplêndido apesar dos quase quarenta anos. Depois que ela pôs o casamento com Teodoro em risco ao tentar um embalo com o farmacêutico Anacleto, que por fidelidade ao amigo afastou-se dela chamando-a de velha, soube-se que Leopoldina arriscou-se outras vezes com outras pessoas.

Lembrem-se: Anacleto, não fosse por Teodoro, claro que provaria do mel mesmo sob a ameaça de engolir o fel. Há coisas que compensam se a adversidade prevista fosse apenas a mudança de sabor. Mas havia uma amizade no meio daquilo tudo. Então Anacleto foi decidido e duro. Disse a Leopoldina que não gostava de mulheres velhas. Para ela aquilo foi o mesmo que chamá-la de feia, horrorosa, gorda e desleixada, o que a ela a triplicar as idas à academia de ginástica, entrar numa dieta alimentar exageradamente sem sentido, mudar o corte de cabelo, trocar de esteticista e procurar outra pessoa para as depilações.

Os resultados mal apareceram e teve-se que concluir que, além de vingativa, Leopoldina tem uma forte tendência de querer transformar o marido no último a saber das coisas. Ou, quem sabe, não saber de nada. Teodoro até manifestou alegria a alguns colegas da repartição pela mulher mudar radicalmente de visual. Ele teria dito que Leopoldina fazia aquilo por amor a ele. Alguns acreditaram. Outros apenas consentiram por respeito. Mas houve aqueles que debocharam pelas costas na primeira oportunidade.

Naquela altura já se propagava que o motivo da transformação era Frutuoso, um bem sucedido professor de curso preparatório para concursos públicos. E Leopoldina virou aluna assídua. Sem faltas e sem desabonos. Aplicadíssima, ela até fazia aulas extras. Primeiro na lanchonete perto do cursinho. Depois, para fugir do barulho do trânsito e dos demais freqüentadores, no apartamento de Frutuoso.

Cara de pau! Ela chegava em casa tarde da noite e dia a Teodoro que havia tido uma lições extras com o professor de administração pública e o extra havia valido muito. Ele, Teodoro, ficava eufórico com o esforço da mulher. E assim prosseguiu por meses de preparativos para um concurso na qual Leopoldina nunca se inscreveu.

Aulas e mais aulas, com direito a esclarecimentos individuais, um dia fizeram que o oficial virasse reserva e o suplente ficasse titular. E Leopoldina sentiu o desejo de trair os dois. Fez isso recorrendo a Miguelito, dono do estacionamento perto do cursinho, para quem trocou as roupas mais esportivas por modelos clássicos.
Sobre essa mudança, Teodoro não se continha de contentamento e saiu dizendo que Leopoldina era uma surpresa a cada hora para manter a paixão dele por ela. Só Anacleto, lá do fundo da farmácia com a seringa de injeção na mão, se lamentava chamando a si próprio de tonto. 

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