quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Conto - O amor no compasso das músicas

A circunstância estava para “Dia Branco”, de Geraldo Azevedo. Um compromisso descompromissado. Proposta jogada para sorteio: “...eu lhe prometo o sol... se hoje o sol sair / ou a chuva... se a chuva cair...”

Coisas de amor e desamor. Em outras épocas as promessas valiam. Certa vez ele cantou para ela um trecho de “Apenas mais uma de amor”, de Lulu Santos, para demonstrar apreço incondicional a ponto de assumir sofrimento, se preciso. Escolheu o refrão: “...se amanhã não for nada disso / caberá só a mim esquecer – eu vou sobreviver / o que eu ganho e o que eu perco / ninguém precisa saber...”

Dramático e conveniente para aquela fase. Cinema para comer pipoca e trocar beijos salgados. Caminhada em volta do lago e apalpadas proibidas no percurso. Sussurros eróticos e lances de pornografia no imaginário até o início da próxima cena de amor, nunca de sexo. Carícias, exageros e a despudorada certeza de impunidade para qualquer ato.

Durou um bom tempo. Desprezaram “Valsinha”, de Chico Buarque. Jamais pensaram em retomadas ou reformas naquele ambiente de amor. O cúmulo foi o resgate de Edith Piaf, jamais na voz dela, mas em interpretações variadas na versão nacional: “...se o destino, então nos separar, / se a distante morte, te encontrar, / não importa, querido (a) / porque eu morrerei, também...”

Juntos até na morte, algo parecido com Romeu e Julieta. Relação apegada no discurso do meu caminho é o teu. E almejaram seguir uma estrada, de mãos dadas, até chegar ao lugar dos sonhos bem no rumo do sol. Enfim, o paraíso das idéias que se completam por falta de opostos.

Até que se aquietaram. E foi por um longo período. Mas só perceberam que a trilha do ideário estava desfeita quando ouviram, vindo do apartamento vizinho, aquele trecho: “...e ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou / e foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou / e foram tantos beijos loucos / tantos gritos roucos como não se ouvia mais / que o mundo compreendeu / e o dia amanheceu / em paz...”

Terminada a canção assumiram, cada um para si próprio, que já era muito tarde para cantar Valsinha.

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