terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Crônica - Preparativos de certos tempos em certos locais

Ai Dagmar! Ganhei um frango lá do Zecão. É caipira, de carne durinha. Ele diz que caiu de uma carrocinha uns quatro, com os pezinhos amarrados, e o carroceiro entretido com a música do celular nem se tocou do prejuízo. Foi embora e os coitadinhos se debatendo no asfalto quente. O Zecão não teve outro jeito. O carroceiro se foi e os frangos ganharam um cercado de tela de arame lá no fundo do quintal dele. Ontem eu fui fazer um acerto daquele negócio e peguei um frango. Ta quitado e bem pago. Nem vai incomodar a cárie e dá pra palitar os dentes com os ossinhos.
  
Só vê se não precisa pegar um gás fiado lá na vendinha. Negocia com o cara. Diz que em janeiro a gente acerta. Se sair aquele servicinho que estou vendo na semana que vem é receber e pagar o gás. Já especulou se a sua patroa vai dar cesta de Natal? É em boa hora, viu? Vai fazer diferença. E nem precisa vir com aquelas coisas caras. Castanha, passas e latinha de patê é pra quem tem luxo. Cá pra nós, uma cesta básica completa é mais vantagem. Vê se negocia isso, mulher.

O vinho eu dou um jeito. Até passei no supermercado para espiar preço e está tudo lá em cima. Cinco e noventa, seis e setenta, oito e cinqüenta e sete. Tudo quebrado no preço, não sei pra que isso. Tem uns de dezoito contos. Cerveja eu prometi que não bebo mais. Se eu disse que não gosto é mentira. O bolso é que não permite. Mas se você autorizar eu compro uma garrafa de pinga para fazer umas batidinhas. Prometo que não vai ter exagero. Uma garrafa eu economizo pra ter batidinha no Natal e no Ano Novo.

E não se preocupe com o limão. Ali no caminho do canteiro de obras tem um quintal com um pé carregado. É limão rosa, mas serve. Dá até pra fazer suco com o que sobrar. E pra ninguém dizer que apanhei limão de quintal alheio sem consentimento eu faço um servicinho pra dona da casa. Tem lá um rachadão na calçada e ninguém da construção vai se importar se eu jogar um bocado de cimento pra consertar aquilo e deixar lisinho.

Eu não sei não se ganho alguma coisa. Sou terceirizado e temporário, estão dizendo que só ganha cesta quem tem carteira assinada. Mas bem que podia. Se der jeito ainda converso com o mestre de obra e vejo se não dá uma exceção. Quem sabe? É merecido, viu nega! Olha que a gente dá o sangue.

Só acho que não vai dar pra receber visita, viu? Fica de alerta e se a sua cunhada insistir abre o jogo. Avisa que aqui está escasseado, não é mole não. E que a gente não vai fazer nada, só a comida normal de um dia qualquer. Mas juro que um panetone eu vou comprar, isso tem que ter. Vejo um daqueles de três e noventa e nove. Não precisa ser encapado com caixa. O gosto é o mesmo, só a embalagem é mais cara.

É, nega, tem que apostar. No ano que vem melhora. Este ano eu me danei por conta da falta de serviço e nem seguro desemprego tive. Trabalhar terceirizado é assim. Mas acho que dou um jeito. Vou botar a vergonha de lado e viro cabo eleitoral. Mas em troca eu quero um emprego se o cara for eleito. Uai, tem um monte de gente que faz isso. E a gente, na modéstia, fica chupando o dedo...    

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