terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Conto - Por trás das dores que só ela sente

Corações apertados arrancam lágrimas, disso ela sabia. Ela, que muitos diziam ser uma pessoa durona: “Fulana não tem um pingo de sentimento. Nunca se emociona”.

Equívoco. Ninguém, diante de uma pessoa que se mantinha impassiva quando cercada por outras, imaginaria que ali se postava alguém muito frágil. Por culpa de acontecimentos, tantos, que deixaram feridas.
Houve um tempo em que ela tentou suavizar as dores recorrendo a familiares, parentes e amigos. As lágrimas eram muitas e ela própria percebeu que incomodava os outros. Tinha a impressão de ser ouvida com desdém: “Lá vem ela de novo com a choradeira...”

Foi então se fechar. Criou em torno de si um muro transparente. Evitou aproximações dos mais chegados. Assumiu sozinha as torturas da dor. Trancou-se com uma corrente grossa e pesada fechada com um cadeado que nem ela sabia onde havia jogado a chave.

Ela também emudeceu. Suas conversas ficaram restritas aos assuntos profissionais. Fora do ambiente de trabalho nenhuma conversa. O rosto se punha sempre com uma expressão de quem vê apenas a si própria. Nunca um sorriso.

Mal sabiam os que a haviam praticamente todos os dias que nas madrugadas, sob a luz fraca de um abajur, aquela mulher estava viva. E como qualquer ser que tem o sangue pulsando nas veias, também sentia. E ela chorava por feridas que não conseguia cicatrizar.

Foi uns dias antes do Natal que ela encontrou ele. Justo ele, que havia sido a causa. Ele veio de longe. Viajou quilômetros e chegou humilde, nunca como antes. Não disse nada. Apenas apertou-a num abraço forte e demorado. E ela chorou diante de pessoas que nunca haviam percebido algum sentimento nela.
E então ousaram dizer: “Viram? Por homem ela chora! Só assim ela fica fraquinha...”

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