quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Crônica - Mamãe lavava as roupas no batedor

Um tronco de madeira serrado ao meio descia em diagonal até a terra a partir de duas estacas fincadas no chão. Media dois metros de comprimento ou pouco menos. Ao lado, sobre pilhas de tijolos, o tambor servia de reservatório de água. Pedras e cacos de telhas calçavam o pedaço do terreno onde dona Luiza batia as roupas todos os dias.

A água era puxada de balde do poço perfurado lá atrás, quase na beira da cerca de madeira que separava o quintal. No andar normal fazia-se o trecho entre o batedor e o poço com uns vinte passos. Balde vazio na ida e balde transbordando água na volta. Pesado e desajeitado, curvava as costas da mulher magra e de baixa estatura. E não bastava uma viagem: a roupa era muita e o tambor grande.

Molhar, ensaboar, bater, esfregar com escova, enxaguar e pendurar. Os varais ficavam ao lado, em área livre dos galhos da mangueira e do abacateiro. Os arames atravessam o quintal de um lado a outro. Quando lotados de roupas pareciam mosaicos montados ao acaso, embora as calças ficassem juntas e as camisas, presas pelas barras, ganhassem o arame mais à sombra.

Toalhas de banho, lençóis, guardanapos e cobertores eram estrategicamente pendurados onde não cobrissem o sol de outros varais. Tapetes encardidos ficavam de molho por mais tempo. Ás vezes, de tão sujos, exigiam uma boa fervura no fogão à lenha da cozinha.

Dona Luiza nunca havia visto de perto uma máquina de lavar. Naquele bairro simples ninguém ainda havia comprado uma. Parentes de localidades mais nobres, quando em visita, contavam vantagens. Diziam que era só ligar e esperar. Parecia até um milagre. Roupas limpinhas e quase secas dependiam apenas de um sopro de vento para ficar no ponto de passar.

Mas na simplicidade daquela mulher, que nem fogão a gás ainda tinha em casa, o sonho estava muito tempo antes das tomadas de energia elétrica e dos botões de ligar e desligar. Dona Luiza queria ganhar um tanque de cimento para lavar suas roupas.

E eu tento contar agora, anos depois de perdê-la fisicamente: quantas calças, quantas camisas e quantos pares de meias que eu usei na minha infância mamãe suou para lavar? Quantos baldes de água foram necessários carregar? 

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