quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Conto - Nosso brinquedo de papel

O barco feito de folha de caderno eu dispensei. Ficou perdido em algum lugar fora do meu controle. Sei que tinha um texto seu, escrito especialmente para mim. Na verdade eu não o li. Sim, porque o barco que você me deu eu o perdi.

Ou não me dei conta. Ou o barco nem chegou a mim. Talvez você tenha se equivocado por culpa de dúvidas se o barco com a mensagem deveria cumprir o seu trajeto. E ele tenha ficado no seu porto a balançar, deteriorar e naufragar, levando junto o texto e a mensagem que eu não li e nem sei do que trata.

Não minto, se soubesse teria respondido. Ou, delicado nas omissões, teria ao menos acenado que o seu barco chegou, mas sem o recado, por ter enfrentado no percurso tempestades que engoliram a tinta da caneta.

Certo, por enquanto eu perco por ter vacilado. Eu quis ser gentil e fui falso. Inventei uma nau e seu trajeto quando me perguntou sobre o seu barco. Pensei que você se referia a um brinquedo qualquer feito com folha de caderno.

Só despertei sobre o meu erro quando áspera você me acusou de não saber responder a pergunta que me fazia no texto desenhado no casco de papel. Foi uma tentativa de consertar uma situação. Veja que compliquei ainda mais.

Não, o seu barco nunca atracou no meu porto. Ele deve ter ficado no caminho ou nunca você o colocou a navegar. Por isso eu não pude responder. Nunca houve, enfim, uma pergunta. E só agora eu me questiono sobre o que perdi. Quem sabe eu tenha ganhado. Me desculpe.

E você, está pronta para repetir a pergunta? Se não te interessa retomar um assunto de tão longa viagem e trajeto acidentado, ainda assim eu respondo, agora consciente e sem medo de errar: querida, o seu barco não chegou até mim porque você o reteve nas suas águas. Passado tanto tempo, creio que o que eu pudesse te dito na época em que o fabricou ficou à deriva. Convém não ajuntar as letras que forem encontradas no caminho. Será muito difícil transformá-las em frases que possam ser entendidas.

Assim, minha amiga, continuamos, ambos, cafajestes sem soluções para nada que nos diz respeito. Estamos acostumados a isso, concorda?

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