quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Conto - Esperteza, sorte e muito sucesso na vida

Eu vou falar de Antonio, cabra esperto e de sorte que veio da roça ainda moleque e se fez na construção civil lá de baixo. Começou como ajudante de ajudante. Depois virou ajudante. E agora tem ajudante.

É trabalho, costuma dizer aos outros que insinuam nele um certo apego aos colegas que são chefes. Servil, Antonio tem dessas coisas de bondade. Vai lá buscar um maço de cigarros e ele sai correndo, na frente de qualquer um. Pé aqui e outro ali e Antonio está de volta com a encomenda na mão.

Manda ver uma água gelada senão a peãozada não agüenta neste calor e Antonio já vai lá adianta, com o garrafão térmico na mão, bater na porta da vizinha do canteiro de obras para pedir a gentileza. E nunca houve quem não o atendesse.

Segura o portão senão esse troço cai nas costas do eletricista que está mexendo no motor do acionamento automático e surge, não se sabe de que canto, Antonio escorando sozinho aquele peso. Muito prestativo o menino.

Ele pretende chegar a mestre de obra, mas por enquanto vai se contentando como pedreiro. E não é por incapacidade. Antonio manja do assunto. Não fosse por ele o piso do quintal da obra recentemente entregue pela empreiteira ia ficar sem caída, ajuntando água nos cantos. E a laje lá da porteira daquele sobradão? Feita na massa pura quase que foi entregue sem as caixas para instalar a luz. Se Antonio não percebe o instalador é que ia ter motivo para criticar a empreiteira.

Acabamento. Sim, essa era, na verdade, a especialidade de Antonio. Um retoque mal feito, um quebradinho no canto do piso recém-assentado e assim por diante. E ninguém tinha motivos para por defeito no que ele fazia. Antonio não deixava rebarba.

Um dia veio a sorte grande naquele canteiro de obras, mas o único contemplado foi Antonio. Deu lá uns vinte e poucos mil reais da quadra da mega e o dono da empreiteira até se assanhou com a possibilidade de uma sociedade.

Mas Antonio, eita cabra de visão, pretendia mais. Quebrou cabeça pensando em que aplicar o dinheiro, que ajuntado às economias dava um valor interessante. No sarro disseram a ele montar uma indústria da multa, mas ele não é bobo. Sabe que isso é das prefeituras, dos estados e das autoridades federais, que contratam empresas de fiéis parceiros para tocar o negócio e repartir os lucros.

Fiéis, esta é a palavra certa. Então Antonio planejou o útil ao agradável e anunciou que ia montar uma igreja. Bateu cabeça três noites e quatro dias pensando num nome: dízimo diga quem és? Até que não era mal, mas ainda fraco em apelo.

E veio nesse período gente pedindo emprestado. Antonio não nega. Mas cobra alto pelo empréstimo desde que tenha uma boa garantia em troca. Já se passaram oito meses desde que o prêmio saiu e Antonio já está com dois carros na garagem. A conta bancária dobrou. E Antonio, agora, já pensa em ser político ao mesmo tempo em que comanda a turma de peões da construção na empreiteira que tomou de um ex-proprietário endividado. É danado o menino.

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