quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Opinião - Circo sem pão e sem arte é palhaçada

Sem lona e nem pipoca, o circo eletrônico do entretenimento é um aparelho de TV. Não há como se mencionar a velha frase aplicada aos casos e eventos relacionados ao uso da comida e do lazer em troca de vantagens, como os votos na política, por exemplo: pão e circo e ganha-se uma eleição.
 
O circo eletrônico, ao contrário, cobra mais do que oferece. Ou cobra e pouco ou nada oferece. E quem tem acesso aos seus espetáculos gasta na compra dos aparelhos receptores dos sinais de televisão, na energia elétrica consumida, no conjunto de sofá e poltronas a ser pago em parcelas mensais, no teto que abriga os equipamentos e os telespectadores e, com voraz ganância, explorando os proprietários de linhas fixas ou de celulares que atendem os apelos das grandes redes para doar, participar, votar, opinar e, enfim, participar de algum programa pagando para isso o custo de uma ligação.

É a falsa e besta interatividade. E aqui a pergunta: besta é quem cai na conversa e enriquece as redes de televisão e as operadoras telefônicas? Ou besta é quem engana descaradamente o telespectador com esta interatividade idiota?

Aos domingos, um apresentador de uma das grandes redes de TV chama praticamente todo o cidadão comum de babaca. Faz isso em troca do seu salário de muitos zeros, que passa da casa de um milhão de reais entre o fixo pago pela emissora que o contrata e a participação proveniente dos patrocínios.

Para este apresentador, é babaca o trabalhador que aos domingos veste-se com uma bermuda e entre um número sem graça do programa que ele apresenta e outro número ainda mais sem molho tira um cochilo. É babaca quem o assiste porque ronca enquanto cochila. É babaca o trabalhador que leva um tombo e entra na videocassetada. É babaca a mulher gorda, o homem barrigudo, a criança que não tem condições de um bom tratamento dentário e está banguela. São babacas todos os brasileiros. E há milhões de aparelhos de televisão sintonizados no programa dele. Portanto, babacas que o sustentam com um salário milionário.

O circo sem pão e sem arte não é só isso. O telespectador precisa saber que na mesma rede as tardes de sábado são recheadas de casos chorosos, de pobres que tem carros recuperados, casas reconstruídas, empregos arranjados e outras coisas que surgem como milagres. Não existe apresentador santo. Existem patrocinadores que pagam além do salário do apresentador os prêmios oferecidos. E o telespectador precisa ter consciência que alguns patrocinadores são do poder público, principalmente bancos estatais. É, portanto, dinheiro público pagando mentira.

E nem é preciso falar dos reality show, como os BBBs e os A Fazenda. São programas que dão lucros exorbitantes aos apresentadores, as emissoras de TV e as operadoras de telefonia, expondo os inconscientes participantes ao ridículo e fazendo de conta que nos oferecem atrações. É circo sem pão e sem arte, mas com muita palhaçada. E nós, babacas, pagamos por isso achando que estamos ganhando muito em troca. Nós suamos para pagar isso. Eles riem do nosso suor e ironizam as marcas molhadas que aparecem nos nossos sovacos.


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