segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Conto - E foi-se o querer de Sebastião por Doroti

Eu vi Sebastião andar a conversa em círculo para falar a Doroti que sentia algo por ela. Era um vai não vai de palavras enroscadas que não chegava à frase. Brecava muito antes de ter rumo porque a razão fugia. Dava um branco no coitado que até eu, se pudesse, entraria no meio daquele assunto para clarear e dar vazão para o que ele queria dizer a Doroti.

Sebastião até cogitou receber treinamento comigo. O que eu pude ensinar transmiti, sei não se ele entendeu: Você estufa o peito, Sebastião. Faz de conta que ali está uma riqueza que você tem que conseguir de todo jeito. Se perder não há de encontrar outra. Se ganhar está com o futuro feito. Assim eu disse a ele, Sebastião.

E ele perguntou se era só isso. Imagine, Sebastião. Estufar o peito é só a pose. Mas estufa o peito feito um pombo que fica aquela bola quase no pescoço. E depois tem que falar. Então Sebastião quis saber o que falar e como. Mas de que jeito é que se conversa, Sebastião? Tem que falar o que está sentindo na hora de abrir a boca. E tem que tirar do coração, puxando com a respiração, sabe? Igual tirar ar do pulmão, tem que dar sentido na frase enfiando a mão lá dentro e esticando pra fora.

O problema é que Sebastião dispensou ensaiar o ensinamento. No horário combinado para a conversa definitiva com Doroti, já que ela já estava descrente de alguma pretensão por parte dele, Sebastião desceu garganta abaixo duas latas de cerveja e de tira gosto mandou três sardinhas fritas daquelas vendidas no bar do Afonso. E foi limão esprimido e muito sal junto.

Na hora Sebastião tentou puxar lá de dentro mas errou de onde. Foi um arroto bem no momento que baixava expectativa. Eu só vi Doroti sair correndo. E como xinga aquela danadinha...  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: