segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Velhos quintais das casas dos bairros de outrora

Os pelos brancos do vira-lata preto Bilú davam uma volta no pescoço e desciam igual babador nos peitos do cachorrinho sem raça e sem origem definida. Apareceu um dia e lá ficou, entre gatos e galinhas soltas, comendo sobras até conquistar o direito de uma refeição própria em prato feito de lata de marmelada.

Não incomodou e nem foi incomodado. Esperto, optou pelo silêncio até fazer amizade e ser considerado de casa. Nenhum latido. E até copiou os felinos na hora do cocô, cavando buraco no chão de terra e depois cobrindo a sujeira. Pulguento, consumiu muito inseticida em pó até ficar livre das coceiras. E nunca reclamou dos banhos de água fria depois de cada aplicação, embora molhasse tudo ao redor ao se sacudir para apressar a secagem.

O gato cinza era quase do mesmo tamanho. Tinha uma cara quadrada, era um macho respeitado. Nem carinho dos meninos aceitava, preferia o isolamento. Às vezes ao sol, outras à sombra, deitava o corpo preguiçoso e ficava com os olhos cerrados sem dar na cara que dormia ou apenas cochilava. Quando os abria na claridade, os cristalinos deixavam de ser um redondos. Viravam filetes na vertical.

Na família dos felinos era o homem da casa, sustentando três gatas companheiras, a amarela, a pretinha e a mesclada. Mas pulava a cerca de madrugada até outros quintais onde fêmeas no cio davam bandeira. Assim o cãozinho Bilú se incomodava e latia, aumentando o barulho dos animais: cachorro latindo, gato miando e galo com relógio adiantado cantando o dia que ainda estava longe.

Por falar nisso, quais das galinhas caipiras serão escolhidas para o Natal? Os antigos diziam que galinha não era assado de Ano Novo, porque cisca para trás e isso é atraso de vida. Mas ali naquele terreno nem na ceia natalina galinha entrava no forno. As crianças não permitiam. E os pais tinham que recorrer, de última hora, aos carroceiros que passavam na véspera com as aves prontas para o abate doméstico.

Como matar e sangrar a Duquesa se ela fazia parte do local? Que judiação abater Pancosa! Mãe, vamos comer peixe no Natal e deixar a Rajada no quintal? Era assim e chegava-se a um acordo. E a bicharada percebia isso, é certeza. Viravam membros da comunidade familiar e agiam como tal: solidários e partícipes principalmente na hora de repartir o pão.

Nem tanto nas demais ocasiões, pois o quintal era grande, com cerca enfeitada de folha de maracujá doce, um pé de abacate, três mangueiras rosa e um pé de limão. Após o almoço cada bicho escolhia o seu canto e a paz reinava sob sol aliviado com plantas. Era uma vez, uma casa de madeira numa rua sem asfalto...


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