terça-feira, 27 de setembro de 2011

Conto - Acerto as letras que formam seu nome

É assim. Letra por letra, palavra e palavras, pontos, vírgulas, reticências e indagações. Não se incomode se esqueci a exclamação. É proposital e no singular, não quero que me leia eufórico e pluralizado.

Cuide-se, minha amiga. Aqui não abro parênteses para detalhar coisas. Sou direto e pretendo ser cristalino. As vezes que recorri ao estilo minimalista me dei com a cara. Você é profunda nos questionamentos e nem perdoa os minúsculos escritos por opção.

Não que eu me incomode com sua atitude. Até me interessa um conflito verborrágico por causa de forma, gênero e enfim, mensagens meticulosas que poderiam ser trocadas por vogais e consoantes tão fáceis de recorrer.

Pois está aqui o meu caderno de anotações. Aberto, não registra o seu nome em nenhum momento, nem que as páginas sejam viradas devagar. É melhor que corra o olho, não dou bandeira em qualquer lugar. Mas se for da sua vontade perca tempo, passe pelas folhas procurando escritas que me denunciem.

São rascunhos sim, bela amiga. Garranchos são armas, pode ser que as idéias amadureçam e exijam atualizações. Nunca, porém, voltar atrás. Nesse caso seriam rabiscos sobre períodos completos que fariam das frases eliminadas um desperdício de espaço.

Até aqui dei argumento para te irritar. E se eu te encontrar disposta é capaz de você achar defeito. No mínimo, vai me acusar de ganhar tempo usando o abecedário inteiro para pronunciar alguma coisa. E que coisa poderia ser dita com um vocabulário restrito?

Faço uso dos substantivos e nem sempre gasto em artigos definidos ou indefinidos. Isso tanto no feminino quanto no masculino.

Caso não tenha reparado, já recorri aos adjetivos quando me referi a você. Isso é privilégio e como sou tosco na forma de elogiar, acredite: se o faço é sincero.

Então, minha bela amiga. Aquele caderno de anotações que eu te mostrei não é o que eu tenho de você. Ali eu disponho de uma bengala para colocar tudo: endereços, telefones, tarefas diárias, pentelhações, cobranças, pagamentos e indefinições. Nada a esconder.

O que escondo está aqui, olha, no meu peito. E em cada linha tem o seu nome. Só não vai saber quando é que te escrevo em maiúsculo ou minúsculo. Jamais saberá também o que saiu garrancho e o que mereceu um rabisco. Veja, meu amor. Você ainda acha que me lê nos meus textos?  

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: