quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Crônica - Nunca questione minha londrinidade

Senti o calor de Londrina aqui de longe, da sacada de um prédio comercial na cidade vizinha onde trabalho. Pensei: nasci lá, sou de lá, não consigo arrebentar as amarras que me prendem a ela, minha cidade. Como é que alguém se dá ao direito de questionar a minha londrinidade só porque trabalho fora de Londrina?

O percurso diário que faço de manhã, de casa ao trabalho, é de cerca de doze quilômetros. Deixo Londrina entre oito e oito e meia da manhã e minutos depois estou na cidade vizinha. Lá por volta das dezoito horas faço o caminho de volta. Indo direto para casa ou passando em qualquer lugar continuo londrinense. À noite, da janela do apartamento consigo ver lá distante a cidade onde trabalho. Sou um observador londrinense.

Toda esta defesa é provocada por um conversa recente com um conhecido. “Mas você ficando fora de Londrina o dia todo está perdendo contato com a cidade. Vai perdendo sentimento, deixa de ter vida na cidade”.

É uma análise de almanaque de farmácia. Claro, não freqüento os bares onde a turma se reúne por opção própria. Há tempos não assisto a uma reunião da Câmara por causa do horário de trabalho. Também é verdade que não posso mais gastar o meu horário de almoço andando pelo Calçadão de Londrina.

Mas isso não dá o direito de alguém roubar a minha identidade londrinense. Se a cidade tem político ruim, continuo londrinense e como tal devo exercer o meu papel de cidadão, no ato do voto, para permitir que alguns dos eleitos sejam bons. E se há bons políticos na minha cidade, tirando-se estes de uma safra de muitos prejuízos, melhor ainda: continuo londrinense do mesmo jeito.

Estive oito meses em Brasília tentando sobreviver com o freelancer. A opção do local foi profissional. Fui por estes oito meses londrinense. Interessante: como lá fora eu percebi claramente a londrinidade que havia em mim.

Trabalhei três anos em Santa Catarina e cheguei a criar confusão por causa da minha londrinidade. Certa vez um colega catarinense provocou: “Então por que você está trabalhando aqui se só existe Londrina? Por que não volta para lá?”

Juro, cheguei até a cantar o Hino de Londrina para os colegas do jornal onde trabalhava, só para mostrar como a letra e a melodia eram bonitas. Bem, a letra eles entenderam, a melodia foi um fiasco...

Então, meu caro conhecido. Você veio lá da Bahia ainda menino. Sei que seu sonho é chegar à aposentadoria e retornar à Bahia. Ainda assim, em respeito a sua presença em Londrina por anos, estou devolvendo: você é um baiano bem londrinense. Isso é um baita elogio, seu safado!

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