terça-feira, 20 de setembro de 2011

Trecho biográfico - Pulmões pedem e ganham ar

(capítulo do livro Sou Cidadã, que conta a história da líder comunitária Rosalina Batista)

            O coração aumenta e diminui nas batidas. A respiração pede esforço. A mulher caminha desnorteada pela rua da região central de Londrina. Por instinto, vai pelo percurso que normalmente a leva para casa. A pé, tenta trocar os passos com rapidez para encurtar a distância. Mas anda devagar, como se não quisesse ir.

            Há menos de cinco minutos Rosalina fora demitida do emprego. Haveria conformismo e aceitação se o motivo fosse profissional. Falha na limpeza da casa, falta de assiduidade e indisciplina, por exemplo. Assim ela havia aprendido. A ex-patroa, porém foi clara: Rosalina perdeu o emprego por morar na Jardim Franciscato, bairro da região sul da cidade.

            E agora, o que dizer para a família em casa? Informar que foi demitida por ser de um lugar pobre soaria como uma desculpa. Não são os pobres que trabalham para os ricos? Ou são os ricos que fazem a faxina, lavam e passam a roupa e preparam as refeições dos pobres? Onde Rosalina teria que morar para merecer uma vaga no mercado de trabalho?

            Não havia revolta contra a pessoa que a demitira. O que Rosalina sentia era uma dor muito mais intensa do que aquela provocada por um ferimento na pele, pois cutucava diretamente a alma. Era angústia, desespero, aflição, medo, raiva do indefinível e um vazio que mexia o raciocínio.

            Rosalina seguiu andando até o Bosque central de Londrina, onde funcionava o terminal de transporte coletivo. Fez a descida da Rua Fernando de Noronha, atravessou as duas pistas da avenida JK e enfrentou a subida de quatro quarteirões até atingir a avenida Higienópolis. Dali, foram mais quatro quarteirões descendo até o ponto de ônibus.

            Nesse último trecho recuperou o raciocínio e começou a analisar os acontecimentos. De tudo que passou pela cabeça reservou uma posição firme: ela, Rosalina, teria que fazer alguma coisa para mudar a sua situação e a de sua família.

            Missão difícil. Analisou que de nada adiantaria ela e os seus estarem bem, enquanto amigos, conhecidos e vizinhos, parceiros na luta para colocar mais um tijolo na construção da moradia, aumentar o número de pratos na mesa durante as refeições, conseguir uma vaga na escola e brigar por um atendimento melhor no posto de saúde, continuariam a enfrentar dificuldades.

            Então Rosalina pensou por todos. Os passos a serem dados teriam que ser mais abertos e ousados. O caminho a ser percorrido seria mais longo, com maior quantidade de barreiras.

            Estava lançada a idéia e traçado o objetivo. Nasceu naquele momento uma pessoa disposta a romper os torrões de terra e pronta para conversar com os poderosos no mesmo tom de voz. Surgiu uma líder comunitária, Rosalina da Cruz Teixeira Batista.

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