A fita métrica tinha lugar certo. Como um xale, envolvia o pescoço com as pontas jogadas à frente. Era um modo de manter o indispensável sempre perto. Conferir a medida era uma prática. De uma casa a outra, para que os botões ficassem na mesma distância. Ou de todas as caídas da saia, para garantir comprimento igual em toda a circunferência.
O tempo ditava a moda e Luiza mantinha uma meia dúzia de figurinos, com revistas raramente atualizadas. Algumas freguesas recorriam a elas para fazer seus modelos. Havia improvisos: a parte de cima de um desenho, a parte de baixo de outro. Atrás de um jeito, a frente de outro.
Desenhado numa folha de caderno, o modelo ganhava as medidas: quadris, busto, altura das mangas, cintura, comprimento. Haveria depois uma prova, quando as freguesas pediriam para ajustar mais aqui, dar uma folga ali, franzir menos, trocar o zíper por botão, fechar mais o decote.
Sim, algumas faziam a prova acompanhadas dos maridos e até para definir o local dos joelhos onde a barra deveria ser dobrada dependiam de consentimento. Se ele achasse que não, dobrava-se mais embaixo marcando com agulhas de cabeça.
E ela, numa distração do companheiro, sinalizava com as mãos que a costureira devia subir dois dedos, três dedos, um dedo ou algum tiquinho. Só para o vestido pronto ter sabor de vitória, além do prazer de uma peça nova a ser usada na próxima festa que houvesse.
Luiza casou costureira, criou os filhos costureira, viu netos nascer costureira e morreu costureira. Eu guardo um casaco de veludo que não me cabe. Guardo porque foi ela, minha mãe, quem costurou.
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