sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Conto - Nem há sol no destempero da poesia

Eram raios deitados sobre arranjos da cama. Preguiçosos... caídos nos lençóis esquentavam o frio. E no calor, sejam bem-vindos!

Havia rima para todo tempo. Sem métricas e terminações parecidas, como lapidar o tosco era igual limpar o infinito: o pincel carregava as nuvens de azul e o céu voltava.

Até a chuva era motivo. De correr, despentear e a linha de chegada ser um abraço. Ou ir, devagar, contando os pingos contornar as curvas do rosto.

As flores nunca envelheciam. Qualquer pétala era um recado. Todas as folhas respondiam. As plantas, fiéis, guardavam segredos.

Pedras catadas ao acaso contavam histórias. O garfo com o dente afastado tinha enredo. Se a cadeira dançava havia uma causa. Toda cortina fechada escondia intimidades.

E os locais da casa... o canto escuro da sala, a esquina cega da cozinha, o lado macio do sofá, o chão do corredor.

Nada parecido com o concretismo desta hora. Seco e acusador, está na agenda em letras nervosas. Esbraveja e cobra, denuncia... acaba com o sol na cama, devolve o frio, tira a cor das nuvens e rouba o céu.

Nenhuma história, os enredos somem. As cortinas estão abertas. Nos cantos da casa nem o silêncio quebra a voz que tortura: “Você me ganhou e a minha vida ficou de cabeça pra baixo... e nunca se importou...”

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