sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Conto - Ir é um caminho de duvidoso retorno

- Você vai contando as pedras brutas que enfeitam o caminho. Elas dividem o jardim e o suco formado de tantos andarem por ali. Eu não posso. Fico aqui, talvez até a sua volta.

- Como posso? Me faltam as pernas. Sinto que quero voltar mesmo antes de ir. E tenho medo de lá chegar e não saber retornar.

- Abra os olhos para a razão e siga. O percurso é longo e a água para acalmar a sede há de esquentar. Só lá saberá se deve fazer o caminho de volta. E lá, sem que perceba, encontrará o percurso quando a hora chegar.

- Mas quantas pedras devo contar? Temo perder a contagem. Já não basta o suor e terei lágrimas que me farão respirar com dor. Os pés serão calos, não sei quanto posso suportar.

- Vai, por favor. Vai sem receio. Não prolongue a partida. Poupe palavras, pois agora permaneço calado. Se tardar surgirão subidas que tornarão sua ida difícil.

- Queria não conseguir. Queria ouvir o pedido de ficar. Sei que a distância é fria e corro o risco de nunca te encontrar. Mas se me pede que vá eu sigo. Já não posso dizer se vou voltar.

- A distância não é muita. Agora digo que vou esperar. E se você não voltar saberei aliviado que lá plantou uma semente e dela nasceu uma flor. Sei dos seus dotes, então a cultivará.

- Nenhuma planta nascerá como a nossa. Adubei com amor e você reforçou com paixão. Se quer que eu vá penso que virei espinho. Me diga se é assim. Quero ouvir, então quem sabe eu caminhe sem nunca olhar para trás.

- Vai, não prolongue a tortura. Talvez eu é que seja o espinho. Sei que quer ir e fico. Não permita que a flor murche mesmo antes de chegar ao destino. Já não posso falar, quero te ver longe.

- Então tudo acabou? O que posso eu dizer agora? Vou, quero esquecer este caminho se lá chegar. Por favor, talvez não compense esperar.

E nada mais disseram. Ele ficou. Observando até conseguir desfazer o nó que se formou na garganta. Ela se foi. Arrastando os pés nos primeiros passos até contar as pedras que interessavam ser contadas. Depois os olhos secaram.

Há quem diga que ele esperou quanto pode. Um dia foi buscá-la, mas ela havia formado outro jardim.

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