Se choveria perto ele não sabia. Mas se chovesse a pipa não subiria, isso era certeza. Teria que arranjar outra ocupação. E se chovesse forte a imperfeição da rua sem asfalto formaria lagos que teriam peixes imaginários, monstros aquáticos, barcos de papel e pescaria.
A chuva, então, não seria de todo mal, embora formasse barro no quintal e provocasse broncas da mãe a cada par de chinelos enlameados. Valeria a pena a repreensão materna, mesmo que o encardido da roupa demorasse dias para deixar de ser motivo de reclamação.
Depois chegariam os insertos anunciando a estiagem. Ocupariam os ares no lugar das pipas de linhas sujas enroladas em latas. E se brincaria de guerra, com aviões bombardeando vilarejos.
Viriam também as minhocas e estas seriam transformadas em enormes gibóias combatidas por valentes lutadores. Aos poucos os pássaros voltariam a cantar e as cigarras a ensurdecer.
E o sol, no seu retorno lento, levantaria fumaça ao bater na terra úmida. E ele pensaria na pólvora queimada do brincar de guerra antes, durante e depois da rápida precipitação que mexeu com a sua nostalgia. Foi questão de minutos olhando o lá fora atrás do vidro da janela de um apartamento muito distante do chão, lá embaixo, que tinha cara de ter vida.
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