quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Conto - Bocejos...

Era uma sala de espera sem muita coisa para ver à frente e nos lados. As cadeiras de plástico, algumas com encostos quebrados, estavam dispostos como numa sala de aula.

O chão de piso frio apresentava manchas. Na parede da frente, atrás da fileira de guichês, somente um mostrador eletrônico com o número da senha de atendimento e da sala para onde a pessoa devia se dirigir.

No lado esquerdo um painel com aviso de horário de funcionamento, documentos necessários e outras informações gerais. E o trivial, necessário, recomendado e obrigatório: um extintor de incêndio.

À direita, somente o branco manchado, quase encardido, que terminava numa porta que dava para um corredor. Sabia-se que ali eram feitos os atendimentos, mas marinheiros de primeira viagem desconheciam se a frieza lá dentro era igual cá fora.

Algumas pessoas aguardavam havia horas. Ouviu-se daquela senhora na primeira fila, entre o homem de chapéu de palha e a criança de blusa vermelha, que ela desembarcou no ponto de ônibus próximo lá pelas seis e vinte da manhã. E já passava de onze e quarenta.

O rapaz de jaqueta de couvim e capacete de motociclista no colo, segundo consta foi o primeiro da fila da senha e ainda ocupava a última cadeira da terceira fila. Imóvel, olhar distante, como se o destino houvesse determinado que ali era o seu lugar e ali deveria permanecer quieto.

A moça da quinta fila de cadeiras, à esquerda, exercitava-se com a boca. Quando não mascava o chiclete, atendia o celular. Às vezes falava alto, como se quisesse que todos ouvissem. Em outros momentos quase balbuciava, preocupando-se com as pessoas ao redor toda vez que se pronunciava.

Um vigia uniformizado ia e vinha, de um lado a outro, de trás para frente, do outro lado ao outro, da frente para trás. O seu papel, pelo que se percebeu, era o de manter a ordem do local. Receio, talvez, que alguém se rebelasse pela demora.

Preocupação desnecessária. Os quarenta ou cinquenta pacientes que esperavam a vez já sabiam ser dependentes de um sistema público. E não era nem por conformismo que as pessoas esperavam quietas. Na verdade, era por conveniência.

Ninguém estava disposto a reclamar com pessoas que escutavam, mas não ouviam. Ou ouviam, mas não escutavam. Quando viam, não enxergavam. E quando enxergavam não viam. Frios, quando não agrediam com respostas deselegantes às pessoas que exigiam explicações, limitavam-se a murmurar que a demora não era por culpa deles. E ninguém sabia quem era o culpado.

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