terça-feira, 10 de agosto de 2010

Crônica - Pergunta sem graça, mas proveitosa

O fecho da calça foi o primeiro sinal. Apesar de dois meses de uso freqüente e o mesmo tempo de lavagem do vestuário, a casa do botão metálico, em vez de lacear, parecia ter encolhido. Elaine passou a ter dificuldades para encaixar uma parte na outra. Era um puxa daqui e outro puxa dali, esticando o cós de tecido duro e grosso.

Tentativas seguidas feitas e até que o fato se consumava. Nos dias mais quentes, o suor chegava a descer da testa. O espelho denunciava no esgarçado do pano algo mais que o encolhimento da casa do botão. Ficava um repuxo visível, mas Elaine, se percebia, fazia de conta que não via.

A não aceitação fazia valer qualquer desculpa. Ora era a qualidade da calça. Ora era a mudança da marca do sabão em pó. Um dia Elaine recriminou a empregada doméstica por passar a peça com o ferro na posição a vapor, o que endurecia o tecido e tornava o vestuário desconfortável.

Mas outros sinais apareciam dia após dia. Calça fechada, cós repuxado e sobravam por cima dele pelancas que antes só eram percebidas quando Elaine se sentava. Agora, de pé e bem esticada, as gordurinhas davam um formato preocupante. O espelho avisava, mas Elaine assumia o que um amigo certa vez havia comentado. Para ele, as gordurinhas que ficavam por cima do cós eram interessantes.

Chegou, por fim, a vez da blusinha de malha sintética. Antes ela se ajustava no corpo com uma folguinha estética. Descia bem e deixava à mostra o umbigo. Ontem Elaine retirou a peça do armário e, quando a vestiu, percebeu de fato as diferenças em seu corpo. A blusa ficou mais curta. A folguinha estética desapareceu. Além do umbigo o comprimento da blusa expôs as gordurinhas e formou, na frente do espelho, uma figura muito diferente daquela que Elaine gostaria de ver.

Entre quebrar o impiedoso vidro da verdade, Elaine decidiu esperar por mais um sinal, que não demorou para se manifestar. Hoje cedo Elaine encontrou duas pessoas conhecidas em momentos e situações distintas. A primeira, depois do abraço de cumprimento, perguntou se Elaine estava grávida.

Minutos depois, quando Elaine ainda se assombrava com a pergunta da amiga, outra pessoa chega e faz a mesma pergunta. Só então Elaine se deu conta que estava na hora de trocar o número das roupas para maior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: