Walter Ogama: Música ao vivo - Brasileirinho no Calçadão

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Música ao vivo - Brasileirinho no Calçadão

Os cambeenses Antonio Sinsic, o Polaco, e Joaquim Inocente, o Tim, deram uma canja durante a apresentação do Grupo de Acordeon Evelina Grandis, de Londrina, no Calçadão de Cambé. Com maestria, tiraram nas sanfonas Brasileirinho, de Waldir Azevedo, enquanto as integrantes do Evelina Grandis faziam uma pausa.

O espetáculo, incluído na programação do Festival de Música de Londrina, aconteceu por esforço da Fundação Cultural e Artística de Cambé. A gravação é precária em áudio e vídeo, pois foi feita com câmera digital amadora. Mas é para se ter uma idéia do que é possível fazer para atrair bom público.

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RONCANDO...

Os semáforos de Londrina vão continuar por mais quatro anos locais para os motoristas dormirem enquanto esperam o verde. Sim, os comuns, que não são ciclovisuais, parece que entram em transe e desacordam. Ou por acaso é estratégia do poder público para dar tempo aos vendedores de sacos verdes de entidades, pedintes desaforados que ofendem quem não ajuda e os que colocam balas nos retrovisores terem tempo de agirem enquanto os motoristas aguardam o verde? Há quatro anos estes trecos estão demorados. E nas vias onde funcionavam as sinaleiras sequenciais agora o cidadão motorizado tem que parar em cada cruzamento. É um percurso demorado e com muita queima de combustível. Nada contra quem trabalha com vendas nestes pontos. Mas alguns encaram os motoristas, e muitos deles são empregados e dirigem carros de suas empresas, como pessoas sem coração. Se vai continuar essa coisa, então que os pais que vão precisar, depois da pandemia, levar os seus filhos para as escolas, tratem de ler e decorar histórias infantís para recontar aos pequenos durante cada parada no trânsito. Comecem com histórias longas. Vai que a administração municipal desperta do seu prolongado sono e apressa também os semáforos. Daí vai dar para encurtar inclusive histórias tradicionais como o do chapéuzinho vermelho e dos três porquinhos.

TÔ NUS CONFORMI...

Mamãe, eu comprei um revólver importado porque agora não tem mais imposto para ter uma arma comprada de fora. Diferente daquele notebuque que o primo comprou de um país de não sei onde. Ele pagou de imposto mais que o preço da geringonça. Aliás, por causa da mentira na propaganda de uma dessas lojas da internet que vende coisas de fora. Mas como, mãe? Que pergunta é essa? O que eu vou fazer com um revólver? Eu vou responder também com pergunta, mãe: “O que se faz com um revólver na situação que estamos vivendo?” Oras, mãe, com o devido respeito: revólver é para atirar. Não só para fazer barulho, mãe. Revólver atira para se impor respeito. Eu com um revólver importado, sem ter que pagar imposto de importação, vou ter emprego, vou ter salário, vou ter comida para trazer para casa. Já pensou nisso tudo, mãe? E outra coisa. Se tiraram o imposto de importação do revólver, daqui a algum tempo vão fazer uma nova lei. Do tipo, quem for pego na rua sem ter um revólver importado será preso, desempregado, judiado, ironizado, avacalhado, chutado, esfomeado até a morte. Além disso tudo, mãe, outra lei vai determinar que o tatuador mais próximo de sua casa escreva na sua testa, em letra maiúscula com tinta rosa, contornada em preto para dar mais destaque: “M A R I C Â O...”

PREGA PEÇA (1)

A Rua Santa Terezinha, na parte que se duplica e forma uma subida anunciando o seu fim, é vítima de uma mentira. Ela fica na Zona Oeste de Londrina, perto de um shopping, ladeando uma grande loja de produtos de construção, cozinha, hidráulica, elétrica e pintura. Leva também ao Marco Zero, onde a cidade começou. Mentira porque alguns passos antes de seu penúltimo semáforo uma placa de trânsito sobre a pista diz que dobrando à direita chega-se ao Teatro Municipal. A pé, no meio da manhã e com sol forte eu segui a indicação. Do ponto inicial, pisando na sombra da placa com o aviso, deformada no asfalto por causa do lado do sol, foram bem contados setecentos e doze passos até o alvo.

PREGA PEÇA (2)

Lá chegando o que se encontra é a armação de concreto do teatro, iniciada faz mais de seis anos. Dá uma boa foto de obra inacabada. Teria custado aos contribuintes cerca de oito milhões de reais só naquilo, um esqueleto. Do jeito que está serve apenas para um ato público contra o desperdício do dinheiro do contribuinte. Mas moradores de rua usam o local como dormitório. Já reeleito o prefeito para mais quatro anos, o teatro municipal, escrito e dito em minúsculo, é de fato apenas um esqueleto de concreto e aço. Também foram eleitos e reeleitos vereadores para a nova temporada de alguma coisa que não sabemos o que será. Mais pandemia e isolamento? Boa parte dos trabalhadores da iniciativa privada estão trabalhando, inclusive em casa. Usando seus celulares, telefones, computadores, energia elétrica, internet, água e boa vontade em tamanho imensurável. E produzem. Vejam que estão, inclusive, economizando para seus patrões. Depois da campanha eleitoral encerrada no primeiro turno em 15 de novembro, o que farão os edis? Defender cachorros, gatos, passarinhos, peçonhentos, IPTU mais baixo? Não basta. Tem que ter projeto de trabalho legislativo. Alguém sabe o que é isso?

PREGA PEÇA (3)

Temos que falar também dos outros políticos, inclusive os pretendentes a algum cargo eletivo ou por nomeação. Deputados estaduais e federais, senadores, governadores, assessores de alguma coisa, secretários municipais e estaduais, ministros, diretores de algo que valha a remuneração gorda e assim vai. Alguém se mexe nesse sentido? Faz tempo, muito tempo, que não. Para se ter uma idéia, o projeto do teatro de Londrina foi escolhido em um concurso nacional realizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil em 2007. A obra foi orçada na época em R$ 70 milhões. Seriam 22 mil metros quadrados com três salas de espetáculos para 2.400 pessoas. Mas parou. Fica como um espetáculo, apenas mais um, do mundo político que temos.

SE CHOVER...

Manhã de quinta, 29 de outubro de 2020. O dia raiou com sol ardido batendo nos vidros das janelas. Sem dó, foi avisando que aquilo persistiria. Mas foi só uma tapeação do tempo para nos castigar, humanos sujões do planeta Terra. “Vai, liga os quatro aparelhos de ar condicionado que você instalou dentro dessa caixa de fósforo chamada apartamento.” Foi assim, no sopetão, como se desferindo socos e explodindo bofetões na nossa cara. Depois, ainda no meio da manhã, deixou a provocação de lado e mandou umas gotinhas de chuva. O sol até se encolheu. O céu fez carranca e escondeu as nuvens branquinhas, iguais cordeirinhos enfileirados. E veio o prenúncio de muita água. Apenas sinal, nada de concreto. Certo que as gotas ficaram mais grossas. Mas pararam. Será que vai chover depois que eu fechar este texto?

LIXO E LIXEIRAS

Sobre a crônica das lixeiras transbordando numa manhã de segunda-feira, é preciso registrar que feita a limpeza e recolhida a sujeira a sensação é de muito conforto, inclusive para as pessoas que se exercitam no local. Lixeira é para ser usada. Mas o que é colocada dentro dela deve ser rotineiramente recolhida. Acumular garrafa pet com resto de refrigerante, embalagem de lanche com pedaço de hambúrguer, resto de casquinha de sorvete e embrulho de palito durante um fim de semana inteiro dá muita meleca.

AMANHECE...

O som é promessa para depois, quando pedirei para reservar um tempinho e escutar. Suspense e espera porque ele é feito por um grupo afinado de cantores, dezenas, talvez centenas de pássaros, acomodados na frondosa árvore da calçada da vizinha. É uma árvore de pouco mais de 20 anos. Ela sombreia a calçada, parte do quintal e da rua, como também o outro lado da via. Foi plantada pela vizinha,que ganhou a muda de uma moradora do meu condomínio, onde na mesma época duas delas também foram fincadas. Mas estas duas passaram por remodelamento constante, de podas para deixá-las bicudas ou retas ou redondas, com se fossem manequins com cabelos arrumados com fixadores. A árvore da vizinha é aquilo que a natureza fez dela: uma bela e enorme planta. Os pássaros não pousam na árvore do meu condomínio. Eles chegam no fim da tarde na vizinha, pouco antes do anoitecer. Escolhem seus galhos, encolhem uma das pernas com as patinhas rentes ao corpo, fazem uma breve cantoria e dormem. Na manhã seguinte, pouco depois das cinco da madrugada, iniciam o recital e despertam os moradores próximos com uma suave sensação de bom dia. E fazem quem ouve refletir sobre como permitimos que homens matem, na cara de pau, a vida, incendiando florestas, poluindo os rios, subtraindo tudo o que podem da fauna e da flora, e mentindo que são eretos. O pior é que "nós" acreditamos...

Na fila...

O que faz, senhora, sob o sol do meio da manhã, com o pouco que lhe resta do rosto fora da máscara desenhando angústia, aflição, quase desespero? O almoço que tem que ser feito te dá pressa? A mistura ainda para comprar causa dúvida? O dinheiro a receber no banco, razão do tolerante aguardo, pode ser pouco? Se valesse a indiscrição, alguém na fila, na frente ou do lado, atrás ou no outro lado, olharia para a senhora e perguntaria: "Por que chora? Está passando bem?" E com a voz trêmula, quase balbuciando, a senhora passaria a mão nos olhos e diria: "Não estou chorando, é suor". Conversa de fila termina assim, sem conclusão. Quem pergunta não acredita em quem responde. Quem responde não se constrange por dar uma explicação qualquer, só para dar ponto final à conversa que mal começou. Mas viu bem a pessoa que perguntou. Pois não havia, de verdade, nem suor e nem lágrimas no rosto daquela senhora, com a boca e o nariz protegidos pela máscara que não é de um baile a fantasia. A mulher com máscara se protegia da pandemia, mas qual máscara esconde preocupação com as contas a serem pagas, a falta de trabalho do marido e dos filhos, o dinheiro escasso, a mesa com menos comida? Aquela senhora chorava por dentro, seca do pranto que talvez pudesse lavar a alma e aliviar, porém jamais acabar com preocupações, medo, raiva, desespero e revolta.

TEMPO...

Dos segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas e séculos. Ou da seca, da chuva, do frio, do calor, das flores e dos insetos. Tempo de brincar na rua, de achar que namora, de querer que a vida seja menos dura. Ou das ilusões, das preocupações, dos pesadelos, das contas a pagar, da casa para alugar. Tempo que é tempo da natureza. Tempo bonito, tempo de tempestade, tempo de capim seco, tempo de vida, tempo de pensar no futuro, tempo de lembrar o passado. Tempo que é do tempo, de árvores desfolhadas, de escuridão. Tempo de folhas no chão. Tempo de pisar na lama. Tempo de ir e tempo de voltar. Tempo bom, tempo ruim. Tempo...

MINICONTO

Pisou e esfregou no cimento quente da calçada esburacada o pouco da ética que lhe restava. Considerou-a desnecessária. Abriu mão dela por benesses que compram prestígio. Assim negociou poder. Capitalizou com influência. Manteve estatus com mentiras. Engavetou a lealdade ao concluir que dela jamais tiraria lucro. E se há onde os resultados dessa empreitada lhe custam caro é na família. Para a esposa tanto faz. Para o filho mais velho o caminho é o seguido pelo pai. O do meio ainda tem dúvidas. Já a adolescente, que tinha tudo para se tornar legionária, por ironia do destino virou-se do avesso e se envergonha dele. É um sentimento que não permite nem um abraço. E olha que ele tanto faz para comprar o respeito da filha. Mas ela não se corrompe como fazem os aliados do pai.