segunda-feira, 26 de julho de 2010

Crônica - Bom Dia!

O elevador, de prédio pequeno e antigo, é apertado. Desce do sétimo andar e pára no quarto, onde, às sete e meia da manhã, o casal jovem embarca. Às pessoas que já estão naquele enjaulado sem ar condicionado e de trepidação preocupante, ambos balbuciam um bom dia. Sem ponto de exclamação no final. Quando muito, esboçam um sorriso, nem amarelo e nem transparente. É um ato forçado, um trejeito, uma boca entortada para fazer de conta.

A reação é recíproca. Os passageiros que já vinham descendo também dão um bom dia apagado. Nada mais. Ninguém fala e tampouco disfarça a tosse provocada pelo café tomado às pressas. Nisso existe um assanhamento. Basta o primeiro tossir que o segundo limpa o arranhado da garganta, o terceiro boceja sem tapar a boca com a mão que está livre dos cadernos, e o quarto, ousado, não consegue disfarçar um arroto. E o casal jovem mantém o riso que nem é amarelo e tampouco transparente.

Acontece desse jeito de segunda até sexta. No sábado a rotina se esfacela. No domingo não se vê ninguém. De qualquer forma, elevador é um espelho. É onde vizinhos são obrigados a ficar de frente. Nesse enjaulado o tímido vê o extrovertido olho no olho. O orgulhoso divide espaço com o humilde. O esnobe tem os pés pisados pelo simples.

Elevador de prédio antigo é o mais democrático dos espaços de um condomínio. Entra na mesma subida o patrão, a diarista, o filho do funcionário público e a mãe do lavador de carro. Embarcam na mesma descida a professora, o servidor público aposentado, o escriturário de um banco estatal e o entregador de água.

Deve ser por isso que as pessoas que sobem e descem pouco se falam. Por ser aberto e coletivo, o elevador de prédio antigo desnuda moradores silenciosos que tentam esconder durante o dia os ruídos que atravessam as paredes de noite e nas madrugadas.

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