sábado, 12 de junho de 2010

Crônica - Pra onde foram os Antonios?



Pelo que eu saiba, nenhum rojão estourou até onde os meus ouvidos me permitem escutar. Não percebi nos caminhos que percorri neste 12 de junho qualquer amontoado de lenha ensaiado para acender uma fogueira à noite. Nem gravetos, muito menos fósforos coloridos, traques ou estalos de salão.

A véspera do Dia de Santo Antônio passou em branco. A única lembrança física de uma comemoração eu enxerguei da janela do apartamento, lá pelas quatro da tarde. Na lojinha em frente, o comerciante pendurou bandeirolas de cores variadas. Até pensei, de início, se tratar de uma torcida múltipla para as equipes que disputam a Copa do Mundo de Futebol. Só depois eu me lembrei de Santo Antônio. Veja, até eu havia esquecido.

Não sou Antônio, nem João e nem Pedro. Mas sou daqueles londrinenses que cresceram em bairro com ruas sem asfalto. Lá na rua Juruá, na Vila Nova, aqui em Londrina, pelo menos duas festas juninas eram tradicionais: a do Seu João e a do Seu Francisco, que apesar de também não ser Antônio, nem João e nem Pedro, patrocinava uma fogueira com direito a pipoca, amendoim, batata-doce, quentão, canjica e muitos fogos de artifício.

As duas festas eram eventos religiosos, de fé e de comprometimento. Nos quintais dos patrocinadores das fogueiras, erguiam-se os estandartes dos santos homenageados. Outra coisa interessante, não havia a babaquice das pessoas se vestirem de caipiras, com chapéus de palha de abas desfiadas, paleto xadrez e gravatinha improvisada.

As fogueiras da rua Juruá eram originais: se morar em rua sem asfalto era coisa de caipira, então todos eramos caipiras; se usar chinelo de dedo era coisa de caipira, eramos todos caipiras; se botinão era coisa de caipira, todos usavamos botinões até para ir a missa da Paróquia Nossa Senhora Aparecida.

As mocinhas usavam as suas melhores roupas e andavam em turmas, numa espécie de footing, enquanto os rapazes esperavam pela passagem delas para manifestar elogios. A molecada brincava ao redor das fogueiras com calções e camisetas encardidas e pés no chão. Os adultos ocupavam os bancos de madeiras e trocavam conversas até o apagar da última brasa. Os Antônios, os Joãos e os Pedros comemoravam com os familiares, os parentes e os vizinhos e demonstravam sentir prazer de transformar uma data de nascimento em uma festa coletiva.

Então se foram os Antônios, desde os que levam acento circunflexo no "o" como também os sem-acento. Assim como desapareceram os Joãos, pois alguns da nova safra ganharam sofisticação no nome e viraram Jonhy ou Jonh. Com eles sumiram os Pedros, as fogueiras, os estalos de salão e os rojões. Ficaram só as festas juninas, urbanamente produzidas e, sendo assim, debochadas, chegando em alguns casos ao insulto de uma tradição.

É uma pena.

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