terça-feira, 1 de junho de 2010

Crônica - Meu ponto de ônibus

Ali raramente alguém desce. Eu já percebi isso. É possível fazer uma comparação grosseira e concluir que de cada quinze pessoas que sobem, apenas uma sai. Por que quinze? Poderia ter dito vinte, ou vinte e cinco, para trabalhar com valores mais chamativos. Ou tentaria ser mais exato, dizendo dezesseis, vinte e um ou vinte e seis.

Mas a minha comparação não é científica. Eu quis, de propósito, comparar com algo que permitisse destacar mais a simbologia do que a quantidade de quem sobe e desce do ônibus urbano naquele ponto de parada que fica no meu caminho.

Um dia parei por ali, lá pelas cinco e meia da tarde, para um rápido descansar após uma cansativa caminhada. Não cogitei pegar um ônibus que me levasse a um destino. Eu apenas uni o útil ao interessante. Despertado pela curiosidade, aproveitei um banco de cimento para sentar e aliviar a pressão dos sapatos nos pés, ao mesmo tempo em que pudesse imaginar para onde iam as pessoas que tomavam ônibus naquele ponto.

Imaginei que eram todos trabalhadores fazendo o caminho de retorno para casa após mais um dia de trabalho. A mulher com os cabelos negros feito um rabo provavelmente seria uma diarista. O jovem de mochila nas costas seria um auxiliar de serviços gerais.

E a garota que ansiosamnente confere os ponteiros do relógio de pulso? Seria ela uma balconista durante o dia e que, à noite, enfrentaria aulas na escola perto de casa? Aquele senhor, com uma bolsa surrada de tanto uso, com certeza seria o porteiro de algum condomínio residencial.

Enfim, o que planejei para aquelas pessoas, que passavam minutos esperando por um ônibus é que elas, naquela rotina diária de ir e vir de um lugar ao outro, tinham lá as suas felicidades justamente por terem um cotidiano preenchido por rotinas.

Casa, emprego, emprego, casa. As pessoas do ponto de ônibus do meu caminho tinham ocupações. Isso eu percebia. Isso eu invejava. Isso me colocava no lugar delas, para cumprir diariamente o jogo do chega e sai, sobe e desce, vai e vem de um dia feito de acontecimentos que, embora parecessem muito com o que foi feito ontem ou anteontem, sempre seriam diferentes por mais pequenas que fossem as atitudes fora do costumeiro.

Então me imaginei naquele ponto, aguardando o ônibus que me levaria para algum lugar onde o meu cotidiano me trouxesse sempre novidades. Mas nunca esperei a condução e rotineiramente segui a pé, como de hábito, depois de aliviar a pressão dos sapatos nos pés por caminhar minutos na direção do meu destino.

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