sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Crônica-reportagem - Isso aqui é bom demais (apesar da sujeira)


É do homem engravatado, feito um executivo, para ele andar sem se sentir constrangido do seu traje e sem constrangedor os que não podem usar um terno de fino corte.

É da mulher elegantemente vestida e escorada num par de sapatos altos difíceis de caminhar sem enroscar nas frestas do petit pavet.

É da balconista uniformizada que reflete charme enquanto vai em frente sob as marquises e usa a caneta como uma presilha nos cabelos longos e negros.

É do operário de macacão sujo de graxa e coração aliviado por ter como fugir alguns minutos do barulho das máquinas e descansar sob as árvores correndo o risco de ser alvo das fezes dos pombos que não estão nem aí para os de baixo.

É dos grupos de estudantes, tagarelantes e felizes pelo fim de mais um dia de aulas.
É da mulher que pede um dinheirinho para comer.

É do sanfoneiro batendo o pé no cimento para fazer o compasso do som e ganhar moedas que nunca vão cobrir todo o fundo da caixa de sapatos usada como coletor de doações.

É dos vendedores ambulantes que se safam da fiscalização e vez ou outras montam suas bancas nos locais de passagem dos pedestres.

É das estátuas vivas que só piscam para conferir o valor da moeda depositada por algum contribuinte.

É dos casais de namorados, que nem se importam com os olhares invejosos dos que estão sós e trocam abraços e beijos carinhosos no intervalo do almoço.

É dos bebês transportados em carrinhos por mães e babás cuidadosas e atentas aos buracos do piso.

É dos propagandistas que anunciam cartões de crédito, telefones celulares e compra de ouro usando a voz, os panfletos e as intervenções educadas das pessoas que passam a trabalho ou a passeio.

É dos religiosos que pregam as suas crenças com paixão pelo que fazem e até com certo radicalismo.

É dos sindicatos que levam suas campanhas contra os bancos, o governo, os salários baixos e as precárias condições de trabalho.

É dos artistas que mostram seus talentos na música, na pintura, na interpretação e sobretudo na sensibilidade e na criação.

É até dos políticos que aparecem apenas nas campanhas eleitorais e prometem muito mais do que podem.

É o Calçadão de Londrina, lugar de todas as cores, todas as faixas sociais, diferentes estilos, variados comportamentos, expressões inusitadas, amor, solidariedade, lazer, namoro,bem-estar, lucidez, devaneios, imaginações em olhares distantes. Lugar de muita vida.

Inaugurado em 1977 e localizado entre as ruas Hugo Cabral e Minas Gerais, o Calçadão de Londrina tem o projeto original assinado pelo arquiteto Jayme Lerner, que foi prefeito de Curitiba e governador do Paraná.


Lugar de todos, os espaço público entrou nas propostas de todos os candidatos a prefeito, mas continua muito sujo e bastante perigoso.
Foto: Marcos Alves

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