sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Crônica - Sintomas

Um vento leve corta os raios de sol e balança as folhas das árvores. A manhã de janeiro é matreira em Londrina, no Norte do Paraná, porque lembra o mar distante. Quem estaria por lá, bronzeando-se ao sabor da brisa e banhando-se com os respingos das ondas que batem na areia?
O calor invade a sala do escritório pela janela de vidro. Nem a gigantesca edificação levantada na direção do céu, a menos de trezentos metros de onde se está, consegue abrandar a claridade. Os olhos ardem, a pele sente, o coração pede um outro lugar.
A queixa é menos geográfica do que parece. Os paliativos, no entanto, são possibilidades descartadas. De nada valeria fugir do mormaço num ambiente aclimatado, pois há o caminho de entrar e sair, onde a temperatura é a mesma que se sente lá fora.
Temperatura, esta é a palavra mágica! Ela seria aceitável a qualquer ponto do termômetro, desde que houvesse o pleno controle das ansiedades, quaisquer que sejam os motivos delas se fazerem constantes numa manhã de sol do mês de janeiro.
Mas o que incomoda é o sentimento que o coração irradia. A cada batida, uma ferida parece se abrir. E chega o momento em que a pulsação compassada vira uma hemorragia. Então o corpo esquenta, a cabeça gira, os pulmões pedem ar e a janela vedada impede qualquer contato com o mundo do lado de fora.
Às vezes o vento cessa por rápidos segundos. As folhas deixam de balançar e refletem mais forte ainda a luminosidade do sol. Aquelas que ficam nas copas parecem mais claras, de um verde claro mas intenso. As que estão abaixo, escurecidas pelas sombras, confundem-se com os galhos marrons que se erguem por cima dos postes.
Uma fachada espelhada esconde hóspedes atrás do vidro fumê, mas sabe-se que quem está do outro lado observa os de fora incógnito, estabelecendo um clima de mistério. No outro lado, o prédio residencial pede uma pintura. Não muito longe, num salão de beleza, mulheres buscam a perfeição. Na avenida, carros sobem e descem e balconistas ganham a vida.
Vida, outra palavra mágica! Ela escapa das mãos numa manhã de janeiro, de sol forte e vento leve e matreiro, dentro de um escritório de janela vedada. As folhas balançam lá fora.

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