segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Crônica - Ponto de partida

Sim, já tenho um prefeito! Não é aquele em quem votei. Trata-se de um cara que eu, como cidadão londrinense, deveria conhecer politicamente. Sou, no entanto, obrigado a considerá-lo um objeto estranho no meu universo de pessoa que é obrigada a viver a política como um elemento fundamental do cotidiano. Como uma peça - importante ou desimportante - da sociedade, voto, pago impostos, contribuo de uma forma ou de outra com a redoma de vidro que protege com alguns benefícios os homens públicos.
O tal que virou prefeito foi padre. Lembra rapidamente dele numa paróquia da Vila Portuguesa. Nada mais. Ouvi boatos em torno de sua curta missão religiosa, mas isso não me interessa. Quanto ao seu novo ofício, o que tenho a firmar agora é o meu compromisso de ser um fiscal rigoroso de seus atos, mesmo nunca ter imaginado ele como o prefeito da minha cidade.
Minha cidade! Quero sempre dizer estas duas palavras de boca cheia. O que aconteceu com ela? Desastre na política, vexame no andamento da coisa pública, falta de segurança, desenvolvimento estagnado, oferta de emprego abaixo da expectativa. A impressão que se tem é que tanto nisso quanto naquilo a cidade está loteada. Isto pertence a tal grupo, aquilo é de responsabilidade da turma de fulano e assim por diante.
Dou-me ao direito de manifestar a minha preocupação e indignação como trabalhador. Jornalista, tenho uma carreira de 28 anos na profissão. Comecei de baixo, entrando pela porta da frente, e nunca precisei usar a porta da cozinha para ocupar alguma vaga. Em 2004 fui obrigado a deixar Londrina após renúnciar ao cargo de chefe de redação que ocupava no maior jornal da cidade. Numa lista de onze demissões apresentados pelo proprietário da empresa, dois nomes eram meus auxiliares diretos. Recusei, mas a empresa decidiu-se pelo corte sem o meu consentimento. Sem o cargo de chefe de redação fui demitido.
Sem emprego em Londrina, fui tentar a sorte em Brasília, onde nunca consegui passar da portaria de entrada dos jornais, onde deixei currículos com as recepcionistas. Nunca recebi retorno de nada. Pensei em visitar os gabinetes dos parlamentares, mas fracassei. Quando visitei, não pedi ajude, ofereci projetos que jamais foram analisados. Foram oito meses de nada, exatamente nada.
Dali fui para Santa Catarina, onde consegui emprego de coordenador regional e editor-chefe de um jornal, em Jaraguá do Sul. Fiquei três anos na cidade e fui demitido após ter sido informado que eu tinha um temperamento arredio aos planos da rede gaúcha que havia comprado o jornal catarinense. Dois meses antes, eu havia recebido a proposta de um político londrinense para retornar à minha cidade.
O problema é que sou um homem de redação de jornal. Sinto-me desnorteado como assessor de comunicação. Travam-se as pernas e os braços. A cabeça dói. O coração sente. Quero voltar para um jornal. Onde?
Eis um retrato fiel e chocante: um cara à beira da aposentadoria tem que recomeçar a carreira. Vou ter mais uma vez que deixar a cidade, pois aqui, ao que parece, a minha experiência profissional vale muito pouco. Estou prestes a abandonar mais uma vez a minha cidade, nas mãos de um prefeito que não participou do processo democrático no qual eu participei como eleitor. Que meus amigos londrinenses lutem para que ele surpreenda e faça muito por esta cidade. Eu sou obrigado a ir...

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