quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Crônica - Só no ano que vem

(publicado no suplemento AN Jaraguá, de A Notícia, Santa Catarina, edição dos dias 31/12/2007-01/01/2008)

Em agosto a moça passou por inúmeras lojas, escritórios e indústrias perto do bairro onde mora e ouviu, repetidamente, uma resposta pronta para o seu pedido de emprego:- Só no final do ano vai abrir vaga...Então ela subiu ao centro, serpenteou ruas e dobrou esquinas para visitar outras lojas, escritórios e indústrias:- Capaz de ter alguma coisa no fim do ano...E chegou o período das possibilidades. A moça refez todo o trajeto: circundou contornos, pisou calçadas irregulares, ensaiou passos para frente e para trás na frente dos estabelecimentos e ouviu:- Só no ano que vem...Aliás, o ano que vem é de eleições. Mas antes tem carnaval. Por falar nisso, alguém pode informar como é que ficaram as CPIs e as CPMIs que tanto ocuparam os telejornais e as páginas das revistas e dos diários?A moça do emprego, que é fictícia, mas representa incontável número de brasileiros que há dias, semanas, meses e anos batalha por um bom emprego, enquanto se sujeita a qualquer vaga que surge para quebrar o galho, tem neste quase palavrão, desemprego, uma das principais causas dos calafrios, pesadelos, assombros em plena hora das refeições e do sono.O Brasil não é um país para projetos. Culpa nossa? Ou dos governantes e legisladores? Dizem alguns, com o risco de serem trucidados por críticas picantes, que é reflexo da cultura brasileira. Ou seja, somos péssimos. Há, no entanto, certa verdade nisso. Acontece que deixamos escapar por preguiça de análise as oportunidades de sermos cidadãos democráticos. E votamos, só como exemplo, em políticos que chegam em Brasília na tarde de terça e voltam às suas bases eleitorais no fim da manhã de quinta. Isso não é fruto de imaginação maldosa. É a verdade.É assim que exercitamos o nosso caminhar. Deixando, tocando em frente, dissimulando que não é da nossa conta. E a moça do emprego vai chegar nas lojas, nos escritórios e nas indústrias em janeiro, pedindo emprego. Vão responder:- Só depois do carnaval...Passada a folia, a moça refaz o trajeto e vai ouvir:- Só depois das eleições...Até lá o que haverá de concreto sobre as CPIs e as CPMIs? É capaz de a gente apoiar, por mais uma análise equivocada, alguém com o pé na lama. Aliás, como já fizemos. Pelo menos hoje temos que admitir: quanto erramos no exercício da democracia!

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