quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Crônica - Marcas...

Ela um dia foi à escola com uma calça feita de pano de saco. Descalça, pisou a terra fria do inverno forte que atingiu a pequena localidade onde morava, sem ao menos ter um agasalho adequado para enfrentar a baixa temperatura.
Menina loira, de cabelos cacheados e olhos verdes, parecia levada. A pobreza pouco influia nas suas brincadeiras com as irmãs e as amigas. Não é com rancor e nem com mágoa que admite já ter passado fome. Mas lembra que, adolescente, apanhou algodão nas lavouras da vizinhança para ajudar no sustento da família, acordando de madrugada e reservando tempo para o convívio com os colegas e os primeiros namoros.
Passagens da vida resgatadas com orgulho. Em alguns capítulos desse passado, a indignação cobre suavemente os relatos. Foi quando a discriminação social deu as caras e fez dela uma vítima dos rapazes que por cobiça quiseram transformá-la no objeto de seus desejos físicos. Ninguém a possuiu, mas a beleza daquela garota obrigou muito deles a blefarem. Era vantagem no grupo de amigos dizer que a tinham tido.
Hoje ela é mulher. Ama como alguém que dedicou a vida para encontrar alguém a quem pudesse entregar o seu amor. A calça de pano de saco e os pés descalços são compensados com uma vaidade sem exageros, mas sempre presente no jeito dela se vestir e se calçar. É mãe e carrega a aparência de uma mocinha.

2 comentários:

  1. Meu tão querido Guri....não faça isso conosco!...beijosssssss (gostei daqui)

    ResponderExcluir

PARTICIPE: