terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Crônica - Presente de Natal

Antonia tem dois filhos e o terceiro está para chegar: um menino para se somar às duas meninas já em idade escolar. A previsão é de que João Manoel inicie 2009 num berço, mas há quem aposte, na família, que o bebê entrará nas estatísticas das crianças que nascem nos primeiros minutos do Ano Novo.
Vendedora de uma loja do Camelódromo, Antonia deve seguir as recomendações do médico e entrar de licença depois do Natal. Podia folgar um pouco antes, mas ela não quer perder as vendas do período.
O marido de Antonia é bancário e não detém um cargo de salário elevado. Escriturário, Cláudio chega a receber até menos do que a mulher, pois ela tem como engrossar a renda com as comissões sobre as vendas. Já ele nem hora extra tem. O banco em que Cláudio trabalha adota a participação nos resultados, mas este ano, segundo comentam seus superiores, deve sobrar pouco ou nada para os trabalhadores.
Antonia já fez a sua lista de compras para o final de ano. Os presentes serão modestos, pois o enxoval do menino que está vindo consumiu economias e fez o casal apelar para o crediário em algumas aquisições. Além das duas filhas, só ganharão lembranças este ano a mãe, o pai, a sogra, o sogro e dois afilhadinhos. Os demais que a perdoem, mas terão que ficar somente com o abraço.
Ontem, Antonia pode comemorar o início do funcionamento do comércio noturno com vendas que trarão boas comissões. Com o fixo de um salário mínimo mais a porcentagem sobre o que ela negocia, Antonia acredita que fecha o mês com cerca de oitocentos reais. O valor sobe para mais de mil reais com a segunda parte do décimo terceiro, já descontadas as contribuições. "É dinheiro", avalia a mulher.
Mais da metade disso será gasto na compra dos presentes das duas filhas meninas. Antonia deve investir cerca de seiscentos reais na entrada de um computador com impressora e monitor LCD. É um sonho das meninas ter um equipamento de informática. Depois, com o tempo, virão mais despesas para conectar a máquina ao mundo pela internet.
Mas este é outro capítulo, pois Antonia decidiu virar o ano com o sorriso de alegria no rosto das meninas e no dela próprio. "O resto a gente se aperta e vai dando pulinhos", comenta a mulher, após recalcular de novo o valor que pretende receber em dezembro entre o fixo e as comissões. Nem a barriga avantajada e o cansaço que sente nas pernas faz Antonia mudar de idéia. Ela nunca teve a oportunidade de mexer num teclado.

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