segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Crônica - Amigo secreto

A quinta-feira prometia. A duas semanas do Natal, Clarice prepava-se para as compras. Na lista, a lembrança para a brincadeira do Amigo Oculto, que estava programada para a noite do dia seguinte, após o expediente na repartição. Desta vez Clarice havia pego um colega do departamento comercial. Conhecia-o pouco, por isso gastou semanas, desde o sorteio dos nomes, para chegar a um presente que, na sua concepção, agradaria o rapaz.
Pesquisou preferências entre os demais colegas e chegou a sondar DVDs de shows e filmes. Passou também por bancas de CDs de música, carteiras de couro, camisas sociais e camisetas mais esportivas. O rapaz, para Clarice, era uma incógnita. Por ser de um setor oposto ao seu, provavelmente, até o sorteio, ela somente tivesse reparado nela ligeiramente, em momentos de encontros nos corredores da empresa.
O amigo oculto de Clarice cumpria expediente com roupas sociais. A função exigia, pois ele visitava clientes e o gel nos cabelos puxados para traz era um ingrediente indispensável. Clarice imaginou que nunca havia visto o rapaz vestido esportivamente. Tênis, bermuda, mochila e camiseta, portanto, nem pensar.
A outra dúvida era sobre o perfil cultural do colega. Ouviria rock ou sertanejo? E se fosse um apreciador de clássicos? O que leria o presenteado? Paulo Coelho? Um best seller internacional? Livro de auto ajuda ou desses autores apropriados para quem trabalha com vendas, de oba-oba e vamos-que-vamos?
Fácil foi descobrir que o jovem era torcedor do Corinthians. Também soube que se ele não era fanático, por outro lado não permitia ironias sobre o seu time, que estampava inclusive um chaveiro adquirido numa feira popular em São Paulo.
Bastou isso para Clarice chegar a uma conclusão. O pacote de presente sério foi feito com uma camisa social, cor neutra, de tecido apropriado para o verão. Na avaliação de Clarice, o presente serviria, no mínimo, para o dia-a-dia profissional do colega. No pacote de sacanagem, Clarice mandou embrulhar um enorme urso de pelúcia preto e branco. Nele vestiu uma camiseta do Corinthians, dessas de lojas populares. No cartão Clarice escreveu: "Este fim de ano é especial para os corintianos. A contratação do fenômeno vai ajudar em muito os adversários. Nada mais justo que presenteá-lo com um boneco dele, que, na verdade, é tão semelhante e provavelmente muito mais ágil daquele que fará parte dos onze nos compromissos da equipe da qual faz parte".
Em troca, Clarice recebeu um par de chinelos Havaianas, decorado, mas de muito mal gosto. A amiga oculta de Clarice era do mesmo departamento e comprovou que pouca afinidade tinha com a colega de trabalho.

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