sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Crônica - Alguém me percebe

Uma lona gasta e o pé se faz impotente. O baque seco transforma o medo em uma mistura de raiva e alivio por sentir que as mãos mexem, os olhos enxergam, os ouvidos escutam, os pés pisam, a cabeça pensa. Tudo, a princípio, funciona, apesar da batida acelerada do coração. O que sobra depois de alguns minutos é a angústia.
A cena de um acidente de trânsito é apenas ilustrativa. Aliás, uma maneira extrema e estranha de entender como alguém se sente diante de um impacto. Comparação provocativa, para reforçar que a lesão causada por um choque físico às vezes é menos nociva do que aquela oriunda de um acidente psicológico.
Mas cura-se a fratura exposta com um curativo. Com o tempo, ela cicatriza e deixa um rasgo na pele, que vai diminuindo e um dia acaba. Quando muito, o que resta é uma mancha, que anos depois será referência de um período da vida. Um curioso há de perguntar qual foi a causa daquele sinal.
Não é o que ocorre com a cicatriz da alma. Esta persiste e em determinados momentos da vida parece aumentar de tamanho. Provoca dores forte na solidão. Invoca a mágoa e a revolta. Dilacera e atormenta, como se tivesse surgido ali no coração para incomodar.
Pensa-se que ela não possa ser combatida. Há, porém, remédios que amenizam seus inchaços. Recebi recentemente um medicamento desse tipo. Veio num PPS, no meio de tantas outras mensagens que me chegam diariamente pela internet.
Chama-se Violino e conta a história de Paganini, que durante um concerto não se abalou com as cordas partidas do instrumento. Tocou com maestria até quando somente restava a última corda, arrancando, além da música, admiração e aplausos. O texto pede que o exemplo do gênio do violino sirva como lição: enquanto houver uma corda, ainda é possível fazer um concerto.
A pessoa que me enviou a mensagem diz acreditar na minha capacidade profissional. E pede que eu persista, pois sempre terei uma última corda à disposição e a partir dela saberei construir aquilo que persigo há anos: uma carreira, que não seja somente de sucessos financeiros, mas me dê motivo de orgulho pela ética aplicada junto com cada tijolo que a sustenta.
Foi então que escorei o corpo no ânimo e prometi executar a melodia da minha vida com a última corda. Em todos os concertos, não me esquecerei de Arline, aquela que me repassou a mensagem.

Um comentário:

  1. Que linda essa cronica amei muito ... ela posso usa-la para montar um apalestra minha sobre motivação? ... Será um otimo exemplo. Simplesmente maravilhosa.

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