quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Crônica - Inconstância

Vidinha! Descia chuva, águas passavam e o cotidiano se alongava quando o sol não aparecia. Igual aos dias brancos, de luz solar forte e preguiça, quando a rotina estonteava.
- Do que conversar hoje, pergunta ela.
- De quem falar bem, emendava ele.
- Ou mal, cutucava ela com jeito de deboche.
Era como se acordassem todos os dias nas cadeiras de balanço espalhadas na varanda. E nela passassem as horas, entrassem a noite, dormissem de madrugada, apenas se espreguiçando quando o corpo pedisse um movimento leve que fosse.
Assim, tinham muito o que conversar. Criticavam tudo e todos. Nada era bom o suficiente. Se fulano fazia, merecia considerações preconceituosas. Se não fazia, era tido como preguiçoso, incapaz.
Da mesma forma, mudavam muito rapidamente o conceito sobre as pessoas que os cercavam. Ontem sicrano era ruim, porque disse aquilo. Hoje era bom, porque teria dito isso. Amanhã poderia ser pior, caso dissesse ou fizesse algo que não fosse do agrado deles. Ou muito melhor, se ocorresse o contrário.
Isso de segunda a segunda, do dia primeiro ao último, às vezes 30, outras vezes 31, ou 28 ou 29 quando fevereiro. Uns dias acordavam às 5, outros às 6. Em tardes quentes, após o almoço, cochilavam mais tempo e colhiam menos descanso por culpa do desconforto. Mas sob as nuvens anunciando chuva no verão, desmaiavam aos roncos. No inverno, mal fechavam os olhos enquanto as últimas folhas do outono teimavam em sujar o quintal.
Era uma vidinha, do primeiro de janeiro ao 31 de dezembro. Um cotidiano de rotina teimosa no costume de acordar, esperar o dia passar, entrar noite adentro na mesmice de todos os dias e dormir.
Tinham que ter algo diferente para enfrentar essa situação. Havia necessidade de uma inconstância. Então falavam das pessoas e mudavam os conceitos sob os alheios de hora para outra, de acordo com a velocidade dos ponteiros do relógio de parede com propaganda de um analgésico.
Nuns dias fulano era bom. Noutros era o capeta.
Inconstância...

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