Artigo escrito por Osvaldo S. Martins, leitor e grande colaborar do administrador do blog, Walter Ogama, com pautas e inclusive apoio em pesquisas na produção de reportagens
Osvaldo S.
Martins
A vida acontece cotidianamente de
um jeito tão coordenada que, às vezes, achamos que ela jamais chegará ao fim.
Mas quando, despreocupados, nos
acostumamos com essa possibilidade, eis que o inesperado nos bate à porta. Ou, pode
se dizer, o esperado momento se faz presente e a vida é ceifada.
Morte, passagem ou termos
populares, como “bateu as botas” ou “ajuntou os pés”, são algumas das
denominações dadas a esse episódio. Evidente, a humanidade e suas diferentes
culturas tratam do breve, porém eterno momento da morte, com suas
peculiaridades.
A questão é que tudo o que
projetamos quando criança, tudo o que alimentamos na adolescência e fizemos na
juventude para alicerçar nossa vida, se acaba em um último suspiro.
Talvez o derradeiro olhar ao
redor seja ainda suficiente para entendermos que o bem material foi superficial
à nossa vida. As poupanças que fizemos, por exemplo, em detrimento de conforto
não relacionado ao monetário. Uma viagem, uma reunião de família, um livro por
mês, um cinema por semana.
Tanto
deixamos para trás com medo de no futuro a vida nos fazer voltar a ser apenas
pessoas, sem nada além da própria pele que nos cobre. Bens materiais, enfim, no
eterno confronta com os valores humanos.
Pois assim é vida, feita de
variadas etapas e tempo distinto para cada um de nós. De um jeito simples
podemos dizer que o destino de todos os mortais é o que acima chamamos de
inesperado, embora pontual. Mais cedo para uns, mais tarde para outros.
E é ali, no cemitério, que nos
tornamos raízes do nada. Na quietude, onde o silêncio é a voz que mais se ouve
e onde todos permanecem enfileirados, em uma única posição.
No dia dedicado aos mortos nos
embrenhamos a caminhar entre sepulturas. Voltamos ao tempo e imaginamos
assistir um melancólico filme sobre o passado.
Percebemos que a velha mania de
criança, de observar os pequenos montes de terra, com uma cruz fincada e ornamentada com uma coroa de flores
de lata, tudo cercado de balaústres, é a lembrança física que resta de um ente
que se foi.
E se o cemitério ficou moderno,
com construções em mármore ou granito no lugar onde antes só havia a terra e a
cruz, o mesmo não se diz da morte. Ela
permaneceu como era na antiguidade e será assim no futuro, levando a cada
instante uma vida. Vida de um segundo, um minuto, uma hora, dias, semanas, anos
e vida de uma vida toda.
Até as letras manualmente
escritas nas cruzes de madeira deram lugar a elegantes placas de metal, com frases
ou pensamentos cuidadosamente elaborados, ao lado de fotos coloridas. Um olhar
e uma lembrança. Uma foto e uma história que ela resgata.
O que nos mostra que o
sentimento de quem fica também é imune à mudança. Ontem e hoje as mensagens
gravadas nas lápides são de muita tristeza e saudade. Seria a dor da perda,
como se a vida nessa fase derradeira ainda nos pertencesse e não fosse uma
dádiva de Deus.
O homem, talvez, demore a entender
que estamos aqui emprestados e que nossos entes queridos são obras do criador,
que os resgata quando estes concluem suas missões.
A vida, enfim, vai e volta. A
vida não passa, simplesmente. Dizia o poeta: “Quem passou pela vida em branca
nuvem... (Francisco Otaviano)”
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