Pioneiro chegou a Londrina em 1952, quando estava com
17
anos de idade. Aprendeu o ofício de alfaiate com
o irmão e recebeu prêmio por
ser considerado o mais
antigo profissional ainda em atividade
Nas fotos: Tsuguio Kakuno, que completa 80 anos
de idade no
dia 2 de setembro de 2015; o Troféu Marilisa do Amaral Campos, concedido pelo
Lions Rotary Club de
Londrina – Alvorada; a máquina de costura PFAFF,
comprada
de segunda mão de um colega; tecidos e manequins, como nos velhos tempos
De terno e
gravata o pioneiro londrinense Tsuguio Kakuno ia à praça do centro de Londrina
nos fins de semana para se encontrar com amigos e fazer novas amizades. E o
mais importante: o programa das noites de sábado e domingo tinha como alvo o amor
de alguma moça. Se a flecha do cupido acertasse em cheio o coração da
pretendida a saída para os passeios seria em companhia promissora.
Tsuguio, que
neste 2 de setembro de 2015 completa 80 anos de idade (ele nasceu no ano de
1935), havia chegado de Araçatuba, Estado de São Paulo, em 1952. Foi lá que ele
nasceu. Em Londrina, o porto seguro foi a companhia do irmão Yukio, que havia
vindo antes, e mantinha uma alfaiataria na esquina da Rua Guaporé com a Rua
Belém, na Grande Vila Nova.
“O
calçamento com paralelepípedo só chegava até a Rua Amapá, um quarteirão abaixo
da Belém. Naquela época a Guaporé era também chamada de Pernambuco”, lembra
Tsuguio. Ainda com poucas vias calçadas, o barro na temporada das chuvas e a
poeira na estiagem eram desconfortáveis para um recém chegado. “Eu estava
acostumado com São Paulo. Um dia, com sede, fui ao bar em frente da alfaiataria
do meu irmão e pedi um refrigerante. E veio tudo sujo”.
Mas os
passeios no centro de Londrina, apesar da poeira, eram com terno e gravata. O
Cine Ouro Verde, por exemplo, seguindo etiqueta de algumas tradicionais salas
de exibição de São Paulo, nos seus primeiros anos de funcionamento só permitia
a entrada de cavalheiros de terno e gravata, segundo Tsuguio.
Não por
coincidência, mas aproveitando o conhecimento do irmão, Tsuguio veio de São Paulo
a Londrina com o propósito de aprender o ofício de alfaiate. “Antigamente o
rapaz encomendava um terno para o noivado e seis meses depois, no casamento,
encomendava mais dois: um para o casamento no civil e outro terno para o
casamento no religioso”, relata Tsuguio.
Londrina
tinha na época em que o pioneiro chegou cerca de 75 mil habitantes, pouco mais
da metade morando na zona rural. Pelas contas de Tsuguio, existiam 52 alfaiates
na cidade. Só a Rua Duque de Caxias tinha 11 deles estabelecidos. Tsuguio, que
após assumir a alfaiataria de Yukio quando o irmão decidiu ir para Curitiba,
chegou a ter quatro funcionários no estabelecimento da Rua Guaporé esquina com
a Rua Belém.
Nesse local
Tsuguio exerceu o ofício por 40 anos. Mas há 23 anos ele está instalado com a
alfaiataria na Rua Araguaia. Até a vinda para Londrina, quando estava com 17
anos, Tsuguio trabalhou na roça. “Comecei a trabalhar muito cedo. Quando eu nasci
meu pai tinha um sitiozinho. Mas teve que vender e passou a ser arrendatário.
Ele trabalhava com algodão e a gente ajudava. Comecei cedo na lavoura também
porque minha mãe morreu quando eu tinha sete anos de idade”.
No dia 11
de novembro de 2011 Tuguo foi homenageado pelo Rotary Club de Londrina –
Alvorada com o Troféu Marilisa do Amaral Campos. Na época ele foi considerado
pela entidade como o mais antigo alfaiate ainda em atividade em Londrina.
Como todo
bom alfaiate Tsuguio tem duas máquinas de costura PFAFF em sua alfaiataria. A que
ele usa foi comprada de segunda mão de um colega alfaiate. “Todo alfaiate tem
uma PFAFF”, orgulha-se. Ele diz que a máquina que está usando vai costurar por
um bom tempo mesmo depois que ele aposentar. A PFAFF veio importada da
Alemanha.
Tsuguio
também tem dois ferros de passar daqueles usados por alfaiates. Um deles, que
está guardado, pesa sete quilos. O que está em uso é um pouco mais leve: perto
de cinco quilos.
A origem e as novas gerações
Nas fotos, a passadeira típica dos tradicionais
alfaiates e
o ferro de passar com quase cinco quilos de peso
Tsuguio
Kakuno é filho do senhor Kota e da senhora Issae Kakuno. Nascidos no Japão,
ambos chegaram ao Brasil, casados, poucos anos antes da guerra. Tiveram os
filhos Yukio, Tuguo, Mitsue e Midori. Kota serviu na Marinha japonesa e só
escapou de ser convocado para a guerra por estar no Brasil. Ele contava aos
filhos que irmãos, cunhados e outros parentes que estavam no Japão e foram para
a guerra morreram em combate.
Tsuguio casou
com Izumi quando estava com 20 anos de idade, já morando e trabalhando como
alfaiate em Londrina. Ela faleceu há oito anos. O casal teve os filhos Izaura
(formada em letras), Massao (engenheiro civil) e Paulino (cirurgião dentista).
São três netas e um casal de bisnetos.
Certas lembranças
“Não tinha um prédio pronto com
elevador em Londrina quando eu cheguei em 1952”, lembra Tsuguio Kakuno. “Tinha
quatro prédios começados: o Autolon, o Manela, o São Jorge Hotel e o Santo
Antonio”, acrescenta.
“O Cine
Ouro Verde tinha acabado de inaugurar. Nos primeiros anos só entrava com terno
e gravata, igual fazia no Cine Marrocos, em São Paulo”, reforça o pioneiro.
“Aqui só tinha a Rádio Londrina”, relata. “Mais da metade da população de
Londrina na época morava no sítio. Londrina tinha 75 mil habitantes”, reforça.