Número 36, pé esquerdo. De confecção fina e couro macio, tem salto alto e taco levemente gasto. Nenhum sintoma de joanete. A cor é bege, nem tão brilhante e muito menos opaca. O meio termo causa impressão natural.
O cheiro é de um sapato com pouco uso e não se vê deformidades. Provável que saiu de um pé delicado, o mesmo que suporta, junto com o outro pé que deve continuar calçado, um corpo pequeno na largura e suficiente na altura.
A idade é um mistério. Modelo assim poderia ser usado por mais nova ou mais velha. Então se fica na metade, entre a pele lisa da juventude e as primeiras rugas escondidas pelo creme.
A cor caberia para a mais clara e ficaria justo também na morena. Porém a mulata seria a dona ideal do pé descalço. E os olhos, as sobrancelhas, o nariz e os lábios comporiam uma mulher apaixonada que à saída do baile deixou sair do pé esquerdo o sapato bege quando subia na carruagem de abóbora.
Assim ele se pôs a procurar por uma princesa. Tantos pés experimentaram mas em nenhum deles o sapato coube tão bem quanto nela, a vizinha da casa em frente, do outro lado da rua. Sim, apaixonada por ele, que a detestava.
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