quarta-feira, 7 de março de 2012

Crônica - Todas as mulheres são mulheres

Te conheci ainda no teu ventre, se lembro daquele tempo não sei, mas sinto que ali já sofri a sua influência que me fez um homem determinado. Te vi mocinha ainda, cabelos negros e lisos nas costas e um baton escondido numa gaveta para ser usado só de vez em quando. Até quando você partiu e eu me senti órfão dos seus braços que me apertavam, do socorro que me acalmava nas suas intervenções a meu favor, do seu arroz com feijão, da sua compreensão, do seu amor por mim.

Te conheci ainda menino, você menina, cabelos curtos, saia desbotada e chinelos de dedo na rua onde eu morei e você chegou. Desprezei seus olhos negros, nem sei o que me deu, mas acho que te considerei moleca sem nada para acender paixão e dar faísca ao amor. Até quando eu mudei e você ficou, e um dia eu vi você formada, moça, cabelos feitos, sobrancelhas aparadas, ao lado de alguém que levou o seu coração.

Te conheci ainda adolescente besta, louco por cenas de pornografia em revistas de páginas amassadas, ao brincar de homem numa rua escura e medonha de um lugar que antes nem de dia eu fui capaz de percorrer. Destratada, mas soberba, vi que você leu o meu medo e se ofereceu a fazer sexo por um preço justo e num lugar seguro, de um jeito que eu me sentisse bem. Até quando você se foi para não sei aonde, levando a virgindade que tirou de mim e aumentando a minha confiança em ti por ter me ensinado a amar nos instantes dos quartos alugados para uso rápido.

Te conheci ainda jovem sonhador, carreira a ser feita, estudo para continuar e sem nada de material que me garantisse vida após o fim do dinheiro do salário no bar da esquina, em pastéis engordurados e garrafas de cerveja. Percebi que você queria deixar de ser moça para ser mulher, depois virar mãe e se tornar parceira, até as rugas assumirem o peso de ser avó. Até aqui estamos no caminho, às vezes você recupera a jovialidade, outras vezes se torna ranzinza, mas prefiro você mulher batalhadora no seu serviço, como se o tempo nunca passasse.

Te conheci nos acasos e foram em eventos quase casuais, em momentos diferentes, circunstâncias inesperadas e necessidades diversas. Você sempre mulher. Eu homem e nada mais que isso. Até quando der.

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