sexta-feira, 2 de março de 2012

Conto - Sentimentos nunca são extremos

Dá um nó esquisito que não se sabe onde. Se no peito ou na garganta, pois tem horas que sufoca. É um aperto moderado. Como se alguém segurasse o pescoço e pressionasse suavemente, porque se dá conta que a respiração fica mais difícil aos pouco. É sensação que não vem de repente. Começa latejando o coração e pensa-se que o problema está ali. Ilusão, porém, pensar que um médico resolva.

É uma agonia que martela. Não, sem extremismo. Agonia é o fim próximo, o declínio, a morte. Seria provavelmente uma angústia, o que se desconhece é a causa dela torturar tanto assim. Talvez uma pontada de solidão, essa coisa estranha de a gente mesmo querer ficar isolada à espera de uma alma que preencha o vácuo que se abre.

Às vezes vai muito mais. Uma enorme cratera que nos cerca. Parada eu me vejo sem saída. Pular é a única opção. Ou ficar até o pesadelo acabar. As duas possibilidades causam dor, sei muito bem disso. Já experimentei fugir de todos os jeitos e cá estou. Qualquer traçado é um círculo e volta-se ao mesmo lugar.

Então decido gritar. E junto com o grito eu choro. Se choro o nó se desfaz, devagar, e a respiração volta. A mão que me aperta o pescoço se afasta e agora é só um afago. O coração bate e a cratera se fecha.

Já tenho o norte, o sul, o leste e o oeste. Refaço trajetos, priorizo metas e ensaio novas arrancadas que me trarão mais angústia. É a vida. Eu, mulher, sei muito bem como vencer meus fantasmas. Vou gritar e chorar para derrubar minhas aflições. 

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