quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Opinião - Os dois sonhos da menina Grazielly

Era tanta a vontade da menina Grazielly ver o mar que parecia sonho. Algo cuja possibilidade é de nunca acontecer e continuar sonho. Sempre, na constante variação da cor da água, de verde para azul, azul para verde. E as ondas, quando gigantes, medonhas. Mas em sonhos elas são inofensivas e acariciam e conduzem, não levam embora para longe.

Os pais tanto falavam desse mar, que também era o sonho deles, que a menina Grazielly sonhava cada dia mais. Ver o mar. Pegar nele. Tê-lo diante dos olhos e não só nas imagens da tevê ou nas ilustrações das revistas.

Ter o sonho tocáveis, nas palmas das mãos, possível. Quem é que não sonha com isso? A menina Grazielly sonhava. E tanto valeram os sacrifícios dos pais, a auxiliar de panificação Cirleide e o caminhoneiro Gilson, que a menina Grazielly pode ir à praia no feriado de carnaval. Com a mãe, o pai e o sonho da família de pegar um pedacinho do mar na areia, na água, nas conchas e no sol do mar, que é diferente de qualquer outro sol.

Lá nasceu uma manhã bela, de céu azul. De longe a menina Grazielly viu a água do mar, em sua imensidão. Às vezes verde, outras azul que lá no horizonte se confundia com o céu. E a menina Grazielly não deu chance para os pais, cansados de uma viagem de um lugar onde não há mar para outro onde o mar existe. Pediu para ir a praia.

A água acariciou a menina de três anos. Brincou com ela molhando os cabelos dourados. Arrancou gritos de alegria da menina Grazielly e amoleceu o coração da mãe, Cirleide, que chorou ao testemunhar a alegria da filha.

E foi tanta euforia de sentir o mar no corpo. De ter certeza que o mar existe. De engolir a água salgada do mar. De perceber o corpo empurrado para a areia pelas pequenas ondas que na menina Grazielly pareciam grandes, de bater na cintura, estalar nas costas e quando de frente para elas obrigar a fechar os olhos para evitar que o choro da elegria fosse lavado pelo mar.

Minutos que parecem uma eternidade. Ou que duraram tão pouco tamanho era o prazer de viver o mar que a menina Grazielly havia acabado de conhecer. A menina que também sonhava ser bailarina só teve um sonho realizado. E foi tão pouco para o tamanho do sonho que ela tinha.

Mal a menina saiu da água e um monstro a levou para sempre. O monstro que não era o adolescente de 14 anos que perdeu o controle de um Jet Ski. Mas os monstros que são os responsável em permitir que um menino conduza um veículo perigoso. O monstro que descuida na fiscalização de quem pode pilotar uma máquina que, na água, é mortífera nas mãos de um adolescente.

A menina foi atingida pelo Jet Ski desgovernado que invadiu a praia. Um Jet Ski que não era conduzido por um monstro. Mas que funcionou nas mãos de um menino de 14 anos porque monstros o autorizaram a ser, infelizmente, o causador de uma tragédia. 

A menina Grazielly viu o mar, sentiu-o de leve por algum tempo. Como disse a mãe, aos prantos: “O outro (sonho) era ser bailarina, mas esse ela não vai poder realizar”. Grazielly morreu perto de seu sonho.

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