terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Crônica - Sobre panetones e suas embalagens

Dezembro tem dessas coisas. E vai o sujeito denunciando na cara o tédio de ter que seguir a mulher com um carrinho de roda engripada. Na virada de cada corredor ele tromba com  panetores. Com caixa de papelão, de latinha ou embrulhado em embalagens transparentes. As opções de sabor são variadas: de chocolate ou passas; chocolate branco ou preto; mais queimado ou no ponto. E assim vai.

Na semana passada um supermercado oferecia um produto muito em conta: pagava-se no caixa do estabelecimento R$ 3,58 e o consumidor levava para casa panetone para o café da tarde de sábado. Para o empurrador de carrinho, para a mulher que vai na frente selecionando os produtos, para o enjoado do filho que só gosta de marca boa, para a filha e o namorado dela que apenas beliscam, para a vovó que começa a comparar a qualidade das coisas de agora com as do passado.

Enfim, quando se trata de consumo caseiro, existe quase uma unanimidade entre o empurrador de carrinho e a mulher que seleciona. O argumento, sempre convincente, é o mesmo de todas as compras: “Oh bem, vamos levar dessa mais barato pra gente experimentar”. E o cara boceja, ajeita os pés nos chinelos, coça a cara e dá um grunhido: “Vamos...”

E chega a hora de escolher os panetones para presente: “O da Dagmar tem que ser de latinha, daquela marca”. Com aquele ânimo, o empurrador de carrinho pergunta, menos por curiosidade, mais pela obrigação de manter um diálogo: “Por que?” E ele fica sem resposta, pois a mulher já está lá na frente virando o corredor.

“Para o tio Leornardo pode ser um desses de caixa. Ele não faz muita questão. Gosta de tudo. Ou faz de conta que gosta...” E o cara coça a batata da perna direita com a sola do pé esquerdo, arrota disfarçadamente, e solta outro grunhido: “Por que?”

“Olha, pra tia Vita e pra sua irma Anselma vamos levar estes mesmo, de R$ 3,99. Poderia até ser o de R$ 3,58 que estamos levando pra casa, mas vai que elas descobrem que compramos na promoção”. E o cara, abordado justo quando olhava a moça de jeans apertando tudo, disfarça e pergunta: “Quem é mesmo que está com emoção?”

Acabou a compra. Ela reclama que ele não ajuda em nada. Ele diz que está com o saco cheio. Ela pede para ele esperar na fila de um caixa enquanto troca o saco de farinha que veio furado. Ele, distraído, vai para o caixa reservado às pessoas idosos, com deficiência ou bebê no colo e espera. Quando ela chega ele está na boca do caixa. E a moça informa: “O senhor não pode passar neste caixa”. O jogo é muito duro, crianças!

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