sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Conto - Outros tempos de preparativos

Laurita, desamarra a galinha e solta no cercado. Deixa ela correr naquele trecho pra dar músculo e não ficar mambembe na assadura. Manda Efigênia reservar uns cinco quilos de carne de porco. Mas pede a parte limpa, tem que ter um pouco de gordura na capa. Senão ela fica seca. Tem que pedir no armazém a reserva de uns dois garrafões de vinho. Cerveja não vai ter não. É cara. Se alguém quiser traga por conta. E a geladeira não agüenta gelar nem água.

Os meninos tem que aproveitar o percurso e ajuntar lenha. Tem gravetos no caminho e até aquelas estacas jogadas no canto do galpão dão fogo. Tem que por assado no fogo uma seis horas e se não pegar brasa ainda não fica no ponto. Macarrão tem que fazer sim. A Mirtes se encarrega, ela tem mão boa. Alguém dá jeito de limpar o cilindro para passar massa. E nem precisa capricho no corte, é só passar faca afiada de cima abaixo e a tira sai perfeita. O molho é melhor deixar pra Nena do tio Ambrósio. E nem põe carne moída naquilo. Carece não. É uns tomatões bem fervido com cebola e muita pimenta até chegar na calda grossa.

Fruta não preocupa. Sobra laranja rosa até para o suco. Dá quantidade bastante para as crianças. Pros moços libera o vinho. Pras moças faz uma espécie de mistura: dois dedos de vinho para um dedo de água. E adoça e põe gelo. Fica igual refrigerante. Manda liberar uns dias antes a parte de cima da geladeira e usa copinhos de plástico pra gelar água. Vai precisar muito. É capaz de fazer calor.

O bolo é missão da Toninha do primo Antão. Aquilo conhece. Não fica nem duro e nem fofo. Dá um ponto bem firme. É bom reservar carvão da sobra da lenha para usar no forno do quintal. Aquela meia saca de batata agüenta até lá. Cozinha com ovo e faz uma espécie de salada. Maionese a Rita prepara. Fica melhor que o comprado pronto. É gosto de verdade, a gente sente na boca.

Aquelas duas cadeiras deixa na varanda que depois eu arrumo. É só tornear uma perna e o resto conserto nos pregos. Se der tempo tem a sobra de tinta azul escura. Pinta tudo que esse branco encardiu. A mesa deixa na madeira pura, ninguém vai por reparo com a toalha presenteada pela vó Maria. Coitada. Ela faz falta hoje em dia. Mas não convinha ficar daquele jeito, cada dia mais esquecida. Era uma judiação. Tem dia que nem eu ela soube quem era.

Será que o Alfredo e a Saura passam o Natal aqui? Sei não, viraram gente da cidade. Fazer o que, é a vida. Mas é capaz deles passarem depois, lá no meio da tarde, só para dar um oi. Devem ter trocado de carro outra vez e nesta entrada a partir do asfalto que termina na mercearia é um solavanco. Não fosse o luxo eu ia buscar de Kombi. Vê se consegue propor a eles. Busco e levo a hora que for.

É bom chamar a Mariana. Viúva ainda de luto precisa de companhia. Os filhos ela não vai ter. Eles não ligam. A mulher vive sozinha. Pede a ela pra ajudar nos preparativos. Assim distrai, deixa de pensar na perda. Quem sabe ela não enxergue o mano Tadeu com bons olhos? Ta na hora de ele tomar juízo e arranjar companheira. Ou você não sabe que na solteirice dela o Tadeu tentou namoro? Todo mundo sabe. Só não deu certo porque ela era soberba. E deu nisso, a viuvez.

Depois pede a Acácio pra vir me ajudar. Vai dar umas vinte pessoas. Com ele eu monto uma mesa lá na coberta. Dá de ponta a outra e nem chuva atrapalha. Semana que vem a gente faz compras e eu me cuido pra não esquecer os pregos. O que tinha enferrujou de tanta falta de uso. Lembra que na terça ou na quarta a gente vai. Aproveita e passa na loja pra comprar calçados. O meu vai dando, lá pro meio do ano eu compro um par. Mas vê uma camisa, à noite tem missa lá no bairro e quero ir novo. Pelo menos no Natal...

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