quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Conto - Acender a esperança e esperar...

Ela telefonou hoje para ele. Depois de muito tempo e espera. A ausência durou algumas temporadas de chuva, veranicos em pleno inverno, mudanças abruptas de temperatura e angústia.

Ele conferiu por meses o registro de chamadas perdidas no celular. Havia a expectativa de uma ligação não ter sido percebida. Remexeu a caixa de entrada do e-mail caçando mensagens que não foram enviadas. Chegou a pensar em desistir de esperar.

A ruptura foi drástica. Ela partiu decidida a seguir em frente e ele era o atraso, a volta para o ponto de partida de um círculo. Sair de um ponto e chegar ao mesmo lugar depois de uma torturante caminhada, assim ela havia classificado a relação com ele.

Isso foi dito de um jeito a evitar réplicas. Qualquer direito de resposta seria uma vã tentativa. E junto o recado quase explícito dela: não telefone, não mande mensagens, não passe em frente de minha casa e se me vir na rua faça de conta que não percebe.

Ele agüentou o quanto pode. Por dias, semanas e meses conteve a necessidade de ligar, escrever, visitar, ver, acariciar, ser, mostrar que a queria de volta. Rascunhou mensagens e deletou. Apertou nas teclas do celular os dígitos que formam o número dela e cancelou. Ousou fazer o percurso que levava a ela e andou até quase lá. Procurou-a em locais onde ambos se viam e até confundiu pessoas que se pareciam com ela.

E quando fraquejou foi consciente. Mandou a ela uma música que é um pouco daquilo que ambos experimentam longe um do outro. Fez isso sabendo que acenderia nele próprio uma esperança perdida. Mas, quem sabe... e fez isso correndo o risco de um silencia dela.

Hoje ela telefonou para ele, que ainda não sabe se ela entendeu o recado quase explícito na letra da música. Mas ouvir a voz dela e perceber o tom brando é motivo para esperar. Quem sabe...

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