quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Conto - É de pisar e esfregar com força no chão

O cotidiano profissional de Rita era de estresse. Chegar ao local de trabalho e ter que puxar a cadeira, que estava encostada à mesa, incomodava. Será que ninguém, sabendo que ela chegava naquele horário, podia fazer o favor de deixar tudo no jeito? Poxa! Que falta de coleguismo...

Já sentada, mais coisas para fazer. Ufa! Abrir a gaveta para pegar a caneta, ligar o computador, beber água da garrafinha descartável de refrigerante, mudar o lugar da agenda de telefones da esquerda para a direita da escrivaninha e pensar. Que trabalheira!

Mas pensar em que? Como de hábito, em quem jogar a culpa por alguma coisa que ela considerava errado na sua rotina: “Deixei o apontador aqui ontem. Quem mudou de lugar?” Assim por diante. Mudanças fundamentais que se ocorressem, por exemplo, num departamento de estado ou no Ministério do Exército de algum governo, resultariam na deflagração da guerra.

“Fico irritada quando vocês mudam a posição que eu deixo a cortina. Tem que ficar assim...” Passada a primeira crise, Rita assumia no seu canto do escritório um silêncio até irritante. Há quem diga que era a fase do reajuste espontâneo, quando ela percebia ter sido extremamente inconveniente com os colegas. Alguns deles contestariam em voz alta: “Que inconveniente que nada. Chata mesmo. Babaca...”

Após consultar os e-mails – e nem sempre Rita reclamava da demora da internet – ela fazia ligações importante. Telefonemas que se deixassem de ser feitos causariam grandes prejuízos, devido aos impactos no bom andamento do trabalho.

E uma lista extensa se abria: tia, amiga, colega, amiga, parente, amiga e vai aquela conversa mole: novela, ocorrência policial, idade da cachorra, bexiga presa, flatulência incontinente, corte de cabelo, pintura das unhas e mais e mais. Caramba! E ainda falta uma hora e meia para o almoço...

“Ninguém vai acertar aquele relógio da parede?” A resposta era o silêncio. Acabou copinho de café. Ninguém vai buscar?” Mais silêncio. “Alguém pegou minha caneta? Se pegou devolve...”

E a hora não passa mesmo, inclusive para os que estão atarefados tamanha é a aporrinhação de Rita. “Falando ela é um saco. Ficando quieta é um saco. O que a gente faz?” O comentário e a pergunta, claro, foram feitos aos sussurros.

E a turma torcia para a hora do almoço ser abreviada. Ninguém se continha quando ela pegava a bolsa, passava pela fresta da porta e ia embora. E o ambiente ganhava clima de um bom local de trabalho. Ah, ela passava pela fresta da porta, mas a bolsa não. Mala e chata, quer ter classificação melhor?

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