terça-feira, 6 de setembro de 2011

Conto - Caminho de todos os dias

É um trecho curto de cá até lá. Dá vinte minutos, pouco mais pouco menos, no passo normal de andar. Nem sai suor. Faz quase uma reta e só ali, adiante da calçada com tronco de árvore cortada rente ao piso, tem subida. Mas nem tanto. Muito antes de chegar ao topo as batatas das pernas amolecem. Coisa assim, de ir sem sentir, quase percebendo o quanto já se caminhou. Vence o percurso numa esticada. Saiu, chegou.

O sol se agüenta. Bate forte nas costas, até queima. Mas pra lá tem sombra. Pior quando vem de lá pra cá, pois pega no olho, então perturba. Já fiz percurso de volta nessa altura do dito cujo e a claridade até cega. Então empapa a camisa, escorre água dos fios do cabelo e desce nas costas. Mas chega, do mesmo jeito, se sair no tranco e manter coragem.

Teve também chuva na ida e na volta. No meio nem tem onde esconder se a bichona engrossa. Tem que seguir e olha que na correria o pano da roupa pesa. Se as gotas pegam de frente até dói na pele da cara. Arde e nem deixa respirar. Assim se vai feito besta, de olhos quase fechados e boca aberta, porque é por ali que se toma ar.

Na escuridão isso aqui dá medo. Já corri de carro lotado que passou por mim e quase encostou bem ali, perto do cercado azul, pouco atrás da moita de espinheira santa. Passava das dez e dei no pé por precaução, nem vi quando cheguei ao portão de madeira lá daquela casa de muro laranja. Fiz trajeto em dez minutos e nem cansei.

Eu ando muito por aqui. Ida e volta, volta e ida e assim gasto solado. Conheço cada buraco da calçada, vou desviando sem olhar pro chão. Às vezes entendia e demora mais. Nunca chega no destino, até dá fadiga. Outras vezes é um pulo. Faço o trecho sem perceber. Mas sempre chego e inteiro. Nunca fiquei no caminho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PARTICIPE: