segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Conto - As estações dos anos

Um dia ele pediu um pão e um gole de café. Ela ofertou uma bandeja farta. Além do pão e do café, o leite, a manteiga, o suco e a fruta.
Mal começava o verão e nas incertezas do clima, que na primavera trouxe frio de inverno, cabia também pedir um agasalho. Ela o presenteou com um abraço.
Passou o verão e estendeu o seu destempero ao outono. Quente, de mormaço, suor e garganta seca. Ele pediu um alívio e ela respondeu com um beijo.
O inverno surpreendeu com afagos. A primavera revelou mais carícias. O outono mostrou peitos arfantes. O verão foi de paixão.
Fez-se outro outono e de novo o inverno, que chamou a primavera, que trouxe o verão. Então ele pediu a bandeja com o café da manhã. Ela nem o pão trouxe e foi assim até a mudança da estação. Então ele cobrou um abraço para se aquecer do frio. Ela nem um agasalho providenciou.
E o período quente chegou muito antes do verão, ainda na primavera, quando ele pediu um refresco. E ela nem com água retribuiu. Os afagos, as carícias, o arfar do peito e a paixão passaram a compor uma lista rotineira de pedidos dele. Ela respondia com desdém.
Foram-se mais quatro estações e nem parceria mais sobrava naquela relação. As cobranças dele escassearam. O comprometimento dela sucumbiu.
E ele, que havia construído sua vida em plataformas de pedidos, percebeu que ali o esgotamento já havia chegado. Assim decidiu se aninhar em outros braços. Para pedir pão e ter a bandeja, insinuar frio e receber um abraço, cobrar um alívio e ganhar paixão.
E ela? Sentiu-se aliviada ao se ver longe de alguém que quis muito e pouco pode lhe dar. Foi quando decidiu buscar novos verões, outonos, invernos e primaveras, mesmo correndo o risco de viver o amor apenas por algumas estações.

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